
Por Miguel Arcanjo PradoApós passar pelo martírio da chuva aterrorizante do fim de cada tarde da cidade, o público paulistano esperava pela dupla Ivete Sangalo e Beyoncé Knowles. A última, norte-americana, era a estrela da noite, ficando para a musa de Salvador a tarefa de abrir o show.
De roupas e pés encharcados e em uma pista de estádio inundada, o que mostra a falta ainda gritante de locais apropriados para grandes shows na maior metrópole do Brasil, o povo aguardava ansioso.
Ivete foi mais do que pontual. Entrou no palco do estádio do Morumbi dez minutos antes das 20h, horário previsto para ela começar. E não se fez de rogada. Em três segundos, já tinha o público de 60 mil pessoas sob suas mãos, hipnotizados por seu já conhecido excesso de carisma.
Além de sacudir a massa com seu repertório na boca do povo – que foi aberto por
Na Base do Beijo, sua canção de Carnaval já cantada de forma uníssona –, Ivete falou até não poder mais.
Contou que havia se tornado amiga de infância de Beyoncé e que era capaz de lembrar das duas crianças em Juazeiro, sua cidade natal na Bahia, esmiuçou sua aventura para chegar ao estádio, que teve parte do trajeto no helicóptero e parte no carro, por conta do temporal.
Ao anunciar que iria embora, antes de cantar
País Tropical, Ivete foi ovacionada. Ao sair, o povo gritava órfão por seu nome.
Beyoncé só entrou às 22h20 para fazer seu show de duas horas. Atrasada, pegou um público já fatigado por Ivete e pela chuva. Mesmo assim provocou reação à altura de seu atual status de maior diva da música pop.
Com passos que parecem ter sido coreografados por uma experiente travesti, ela mostrou todo o excesso de poder da fêmea que caracteriza seu estilo. Tal postura provoca uma catarse em seu público composto por uma reinante maioria de jovens gays, que parecem se projetar naquela Barbie Negra, como definiu muito bem minha amiga Gabriela Quintela, que viu o show a meu lado. Tudo o que aqueles meninos queriam era ter aquele corpo, aquela peruca e aquele atrevimento que Beyoncé demonstra diante de seus homens de barriga tanquinho.
Beyoncé fez um show correto e excessivamente coreografado. Há quase nenhum espaço para improviso ou criatividade. Tudo é milimetricamente calculado e dirigido para produzir o resultado esperado: fazer dela uma diva. E ela canta como ninguém, apesar de inserir o playback em alguns momentos do show.
Mas como Ivete fez questão de dizer, logo após tomar um tombo no palco e se comparar a Madonna e Beyoncé, que também já tiveram quedas espetaculares, o Brasil tem sua diva também. E esta não fica a dever em nada para a garotinha negra do Texas.
Na volta do estádio, num ônibus rumo ao centro, escutei uma passageira comentar sem nenhuma vergonha: “A Beyoncé arrasou, mas eu gostei muito mais do show da Ivete”. Verdade dita.