terça-feira, 9 de junho de 2009

Rita Lee ao vivo

Por Miguel Arcanjo Prado

A paulistana Rita Lee, 61 anos, não quer saber dessa história de ser lenda do rock. "Mito? Não tenho distanciamento de mim mesma para saber que papel ocupo nesse teatro", diz. No DVD que relembra seus 40 anos de carreira, "Multishow ao Vivo Rita Lee", a cantora demonstra a mesma atitude jovial que exibia quando apareceu, no 3º Festival da MPB da Record, em 1967, que também consagrou Gilberto Gil.

Na produção, Rita surge solta e próxima do público. Há momentos engraçados, como quando ela coloca um chapéu de cangaceiro, assume o triângulo e desconstrói a música dos Beatles "I Want to Hold Your Hand" na versão "O Bode e a Cabra". E também emocionantes, como na mistura de "Baby" com "Domingo no Parque", "Panis et Circense", "Bat Macumba" e "Alegria, Alegria", no arranjo que reverencia a Tropicália, movimento que a lançou.

Questionada sobre a razão de sua longevidade artística e de seus amigos Gil e Caetano Veloso, Rita brinca, com um fundo de verdade. "Será que é porque somos geniais?", devolve, gargalhando. E abre guerra à nostalgia: "Não sou saudosista. Odeio 'revivals'. Não acho que nada do meu tempo era melhor".

A direção do DVD é de Rodrigo Carelli --responsável pelo último DVD de Ivete Sangalo e diretor de "A Fazenda" (Record). "Ele é um amor de pessoa, aberto, tem bom gosto, e sua equipe foi superlegal", elogia.

Próximo disco
Se o trabalho atual, mesmo sob roupagem contemporânea, olha para o passado, o próximo será um disco de novidades. "Temos várias inéditas ainda em demo... Resta escolher as melhores e entrar no estúdio. Uma delas é 'O Povo Brasileiro', que faz um deboche e uma declaração de amor à loucura da nossa gente", adianta. "A inspiração não avisa quando aparece, só tenho de estar pronta para ouvir o que o santo diz quando baixa."

Roqueira convicta, alfineta o cenário atual. "Cada geração tem o rock que merece", dizendo gostar da banda Ruanitas. E lembra do roubo de seus instrumentos, em 2008. "Na hora que soube, foi como um estupro. No dia seguinte, fiquei deprimida, no terceiro dia, ressuscitei dos mortos, tive vontade de pegar a metralhadora. No quarto, meditei e entendi que nesta vida a gente deve se desapegar das coisas." Rita, que botou fogo na escola onde estudou --ou melhor, ela corrige: "Não exagere... Botei fogo no teatro da escola"--, diz que não é mais a ovelha negra da família. Mas explica: "Minha família antiga já não existe mais... Minha nova família é feita de ovelhas negras".

Publicado no Agora São Paulo, em 9/6/2009.

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