segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Coluna do Miguel Arcanjo nº 174

A alegria americana e a tristeza carioca

Por Miguel Arcanjo Prado*




Depois de quase dez anos afastado da elite do futebol nacional, o América Mineiro conquistou o direito de voltar à série A do Campeonato Brasileiro, no último sábado (27), ao empatar com o Ponte Preta. Fiquei contentíssimo.

Não, caro leitor. Não sou americano. Sou galo, torcedor do Atlético-MG, estado esportivo que também define todos os outros membros da minha família quando o assunto é bola no campo. Mas, como bom atleticano, na mesma medida em que
odeio o Cruzeiro, tenho aquele carinho especial pelo Coelho.

Quando se fala em América, a imagem que vem em minha mente é a do Tio Jaci, típico torcedor americano, morador do tradicional bairro do Esplanada, na zona leste belo-horizontina, nos arredores do estádio do Independência, a casa de seu time.

Sempre com seu radinho a pilha por perto, Tio Jaci acompanha cada centímetro da trajetória de sua equipe desde que me entendo por gente.

Nas férias da infância e adolescência, que adorava passar em sua casa, com Tia Rose e os primos Mateus e Moisés, o América Mineiro sempre era a pauta das conversas com ele. Tio Jaci sabia tudo. As contratações, as broncas do técnico na equipe, a
escalação para o próximo jogo. Eu, apesar de não ser muito afoito em temas futebolísticos, sempre dava trela,encantado com o encanto que aquele time provocava nele.

Tenho certeza que hoje, com o América-MG na elite do futebol nacional, Tio Jaci está lá na casa dele todo orgulhoso e feliz.

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O horror que se viu nos últimos dias no Rio entristece,choca, comove, provoca, desespera. Desespera porque é difícil ver luz no fim do túnel desta cidade com bandidos cruéis encastelados não só nos altos dos morros como também nos altos gabinetes do Estado.

Apesar da euforia provocada por tanques de guerra que deixaram traficantes acuados, ainda é difícil vislumbrar jeito para o Rio. Porque sempre haverá consumidores de drogas. E gente que lucrará com a venda ilegal dela à população.

É por demais utópico dizer que o consumo deveria acabar como estratégia de minar a força do tráfico, tirando dele o dinheiro dos playboyzinhos e patricinhas da zona sul e suas festinhas por lá e na Lapa.

A verdade é que as coisas não são tão simples assim. É por isso que, mesmo com o Alemão caído, a gente ainda fica com medo e se desespera.

*Miguel Arcanjo Prado é um jornalista mineiro de jeito carioca.

sábado, 6 de novembro de 2010

Filha de nordestinos que ama o Brasil sem fronteiras



Por Adriana Macedo*

Nasci em São Paulo, como milhões de paulistanos, apenas pelo fato de meus pais, trabalhadores rurais no sertão cearence, não encontrarem naquela época condições mínimas de trabalho e renda para manterem suas famílias com dignidade.
Para cá vieram ainda na década de 60, mais precisamente em 1968, pleno ano da ditadura pesada, do AI-5.

Lembro de que minha casa era sempre cheia de parentes. Quem já tinha casa recebia os outros, até que esses se estabilizassem e pudessem garantir o seu teto. Eram tempos difíceis, mas de muita solidariedade e muito, muito trabalho.

Meu pai aqui aprendeu o ofício de marceneiro, no qual trabalhou durante toda a sua vida. Levou marmita, pegou ônibus lotado, acordou às 5h da manhã, respirou muito pó de serragem e ouviu muito barulho alto de máquina, durante 30 anos de trabalho.

Me recordo com muito carinho da rotina diária de minha mãe, olhando-o descer do ônibus às 18h em ponto e indo colocar sua janta na mesa, para assim que ele entrasse, a comidinha estivesse lá, quentinha, para quem vinha faminto de um dia inteiro de trabalho pesado. Aquela comida simples tinha gosto de amor, de afeto, de cuidado...

E foi nessa luta, que Francisco mandou os três filhos para a faculdade (dois deles para a faculdade pública), o que sempre foi sua grande meta de vida.

Lá no bairro da Freguesia do Ó, eu nunca tinha sentido o preconceito, pois a grande maioria era formada por nordestinos, ou imigrantes mineiros, nortistas. Mas, conforme fui crescendo e adentrando a outras regiões da cidade, ouvi muitas barbaridades, muitas agressões, muitas discriminações que não entendia e com as quais me revoltava. Já briguei muito defendendo os nordestinos, quem me conhece sabe como eu era mais combativa, revoltada e até agressiva.

Hoje, vejo esses atos fascistas, xenofóbicos, preconceituosos e criminosos (divulgados no Twitter contra os nordestinos, em virtude da vitória da candidata Dilma Rousseff para presidente), vindo de pessoas jovens, que têm formação e informação, e me dá uma profunda tristeza, uma sensação de que não estamos evoluindo enquanto nação, enquanto cidadãos, enquanto seres humanos.

Que tipo de valores esses jovens estão recebendo em casa para disseminar tanto ódio gratuito, tanta barbaridade, tanta violência?

Eu sempre defendi um Brasil sem fronteiras, um mundo sem fronteiras. As cidades, estados, regiões, países são apenas divisões políticas e administrativas, a Terra é inteira, única, completa.

Ao mesmo tempo, amo e admiro as diferenças. Que lindo país temos, com tantas culturas, tantos sotaques, como adoro o "oxente" baiano, o sotaque cheio de “s” do carioca, os “uais” mineiros... Aliás, também repugno essa rixa estúpida entre paulistas e cariocas. Sou paulistana e amo o Rio de Janeiro.

Como é gostoso viajar e ouvir diferentes formas de pronúncia, comer comidas diferentes. Como aprendemos como viviam os europeus quando vamos ao sul, e as culturas africanas na Bahia. E a variedade de cores de pele, olhos, cabelos, como é rico e belo.

Que triste seria se todos tivéssemos a mesma aparência, o mesmo sotaque, o mesmo modo de pensar... Seríamos como robôs, cópias clonadas, máquinas. Viva a diferença! E é respeitando as diferenças que percebemos que, na essência, somos todos realmente iguais!

*Adriana Macedo é jornalista.