domingo, 26 de dezembro de 2010

Coluna do Miguel Arcanjo nº 175



Papai Noel e uma ceia de Natal

Por Miguel Arcanjo Prado*


Foi Márcia La Marca, produtora da TV Globo Minas, quem me apresentou ao Papai Noel dos Correios. Marcinha, como é carinhosamente chamada pelos amigos, sempre fazia questão de buscar as cartinhas escritas por crianças pobres endereçadas ao Papai Noel. Depois, levava o pacote à redação, onde distribuía uma a cada um dos jornalistas, incluindo aí os estagiários, categoria à qual eu pertencia nos Natais de 2005 e 2006.

Marcinha me ensinou a alegria imensa que é ir às lojas de brinquedos ou papelarias buscar presentes dos mais simples pedidos por aquelas letrinhas infantis cheias de fé e de esperança, mesmo diante de uma vida tão adversa.

Quatro anos já sem Marcinha no meu cotidiano, há duas semanas, fui postar alguns cartões de Natal na agência dos Correios da minha rua. E qual não foi minha surpresa ao ver, enorme, uma caixa de papelão cheia de cartinhas. Atrás da caixa, uma funcionária com aquele sorrisão igual ao da Marcinha, pedindo:

- Por que você não leva uma? A campanha só vai até depois de amanhã. E ainda tem muita cartinha aí perdida, sem ser adotada...

Logo quando entrei na agência, eu me encontrei com a faxineira do meu prédio, que estava saindo. Esperta, a atendente dos Correios notou nossos cumprimentos e a pergunta de Marlene se eu não queria que ela fosse lá em casa deixar o apartamento um brinco para o Natal. Tanto que mandou essa:

- Por que você não adota a cartinha do filho de sua funcionária? Ela colocou já faz alguns dias mas ninguém levou ainda... Ela vem aqui todo dia ver se alguém pegou e, hoje, terminou de sair tristinha, porque percebeu que a cartinha do filho dela ainda está aqui.

Mal disse essas palavras, enfiou a mão na caixa, retirando o trunfo:

- É esta aqui!

Na hora me veio à cabeça o sorriso de Marcinha. Não tive como não levar esta e mais outras três cartas, que dividi com meu primo Caio Silva e minha amiga Gabriela Quintela. Só sei que saí dos Correios me sentindo o ganhador do maior presente do mundo.

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Noite de véspera de Natal e lá estava eu na redação do R7. Trabalhando sem parar. Com a família e o amor a algumas centenas de quilômetros de distância, não havia perspectiva de ceia ou de confraternização.

Até que o elétrico repórter Fernando Gazzaneo veio com o convite de última hora:

- Miguelito, terminei de falar com o João Varella [gaúcho e também repórter dos bons do R7]. Ele falou que a mãe dele veio de Guaíba visitá-lo, fez uma ceia enorme e está chamando dóis para ir à sua casa assim que sairmos daqui. Vamos?

Simples assim. Logo que deu nosso horário de saída, às 23h, rumamos às pressas para a rua Eduardo Prado, nos Campos Elíseos, onde fica o apartamento do João, com medo de não chegarmos a tempo da meia-noite. Mas deu tudo certo.

Conhecemos Patrícia Varella, parecida mais uma irmã do que mãe do João. Professora de educação física e dançarina de mão cheia. Uma gaúcha da pá virada que foi várias vezes na fila na qual Deus distribuiu o carisma. Feliz, sorridente, simples e acolhedora. Fez-me sentir em casa, ao lado de Fernando, dela e de seu dois filhos, João e Gibran - este vindo de Curitiba também para o Natal.

Foi assim que descobri, mais uma vez, que a beleza do Natal é feita de gestos simples e inesquecíveis.

*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e deseja a todos um 2011 cheio de saúde, paz e Deus no coração.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Coluna do Miguel Arcanjo nº 174

A alegria americana e a tristeza carioca

Por Miguel Arcanjo Prado*




Depois de quase dez anos afastado da elite do futebol nacional, o América Mineiro conquistou o direito de voltar à série A do Campeonato Brasileiro, no último sábado (27), ao empatar com o Ponte Preta. Fiquei contentíssimo.

Não, caro leitor. Não sou americano. Sou galo, torcedor do Atlético-MG, estado esportivo que também define todos os outros membros da minha família quando o assunto é bola no campo. Mas, como bom atleticano, na mesma medida em que
odeio o Cruzeiro, tenho aquele carinho especial pelo Coelho.

Quando se fala em América, a imagem que vem em minha mente é a do Tio Jaci, típico torcedor americano, morador do tradicional bairro do Esplanada, na zona leste belo-horizontina, nos arredores do estádio do Independência, a casa de seu time.

Sempre com seu radinho a pilha por perto, Tio Jaci acompanha cada centímetro da trajetória de sua equipe desde que me entendo por gente.

Nas férias da infância e adolescência, que adorava passar em sua casa, com Tia Rose e os primos Mateus e Moisés, o América Mineiro sempre era a pauta das conversas com ele. Tio Jaci sabia tudo. As contratações, as broncas do técnico na equipe, a
escalação para o próximo jogo. Eu, apesar de não ser muito afoito em temas futebolísticos, sempre dava trela,encantado com o encanto que aquele time provocava nele.

Tenho certeza que hoje, com o América-MG na elite do futebol nacional, Tio Jaci está lá na casa dele todo orgulhoso e feliz.

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O horror que se viu nos últimos dias no Rio entristece,choca, comove, provoca, desespera. Desespera porque é difícil ver luz no fim do túnel desta cidade com bandidos cruéis encastelados não só nos altos dos morros como também nos altos gabinetes do Estado.

Apesar da euforia provocada por tanques de guerra que deixaram traficantes acuados, ainda é difícil vislumbrar jeito para o Rio. Porque sempre haverá consumidores de drogas. E gente que lucrará com a venda ilegal dela à população.

É por demais utópico dizer que o consumo deveria acabar como estratégia de minar a força do tráfico, tirando dele o dinheiro dos playboyzinhos e patricinhas da zona sul e suas festinhas por lá e na Lapa.

A verdade é que as coisas não são tão simples assim. É por isso que, mesmo com o Alemão caído, a gente ainda fica com medo e se desespera.

*Miguel Arcanjo Prado é um jornalista mineiro de jeito carioca.

sábado, 6 de novembro de 2010

Filha de nordestinos que ama o Brasil sem fronteiras



Por Adriana Macedo*

Nasci em São Paulo, como milhões de paulistanos, apenas pelo fato de meus pais, trabalhadores rurais no sertão cearence, não encontrarem naquela época condições mínimas de trabalho e renda para manterem suas famílias com dignidade.
Para cá vieram ainda na década de 60, mais precisamente em 1968, pleno ano da ditadura pesada, do AI-5.

Lembro de que minha casa era sempre cheia de parentes. Quem já tinha casa recebia os outros, até que esses se estabilizassem e pudessem garantir o seu teto. Eram tempos difíceis, mas de muita solidariedade e muito, muito trabalho.

Meu pai aqui aprendeu o ofício de marceneiro, no qual trabalhou durante toda a sua vida. Levou marmita, pegou ônibus lotado, acordou às 5h da manhã, respirou muito pó de serragem e ouviu muito barulho alto de máquina, durante 30 anos de trabalho.

Me recordo com muito carinho da rotina diária de minha mãe, olhando-o descer do ônibus às 18h em ponto e indo colocar sua janta na mesa, para assim que ele entrasse, a comidinha estivesse lá, quentinha, para quem vinha faminto de um dia inteiro de trabalho pesado. Aquela comida simples tinha gosto de amor, de afeto, de cuidado...

E foi nessa luta, que Francisco mandou os três filhos para a faculdade (dois deles para a faculdade pública), o que sempre foi sua grande meta de vida.

Lá no bairro da Freguesia do Ó, eu nunca tinha sentido o preconceito, pois a grande maioria era formada por nordestinos, ou imigrantes mineiros, nortistas. Mas, conforme fui crescendo e adentrando a outras regiões da cidade, ouvi muitas barbaridades, muitas agressões, muitas discriminações que não entendia e com as quais me revoltava. Já briguei muito defendendo os nordestinos, quem me conhece sabe como eu era mais combativa, revoltada e até agressiva.

Hoje, vejo esses atos fascistas, xenofóbicos, preconceituosos e criminosos (divulgados no Twitter contra os nordestinos, em virtude da vitória da candidata Dilma Rousseff para presidente), vindo de pessoas jovens, que têm formação e informação, e me dá uma profunda tristeza, uma sensação de que não estamos evoluindo enquanto nação, enquanto cidadãos, enquanto seres humanos.

Que tipo de valores esses jovens estão recebendo em casa para disseminar tanto ódio gratuito, tanta barbaridade, tanta violência?

Eu sempre defendi um Brasil sem fronteiras, um mundo sem fronteiras. As cidades, estados, regiões, países são apenas divisões políticas e administrativas, a Terra é inteira, única, completa.

Ao mesmo tempo, amo e admiro as diferenças. Que lindo país temos, com tantas culturas, tantos sotaques, como adoro o "oxente" baiano, o sotaque cheio de “s” do carioca, os “uais” mineiros... Aliás, também repugno essa rixa estúpida entre paulistas e cariocas. Sou paulistana e amo o Rio de Janeiro.

Como é gostoso viajar e ouvir diferentes formas de pronúncia, comer comidas diferentes. Como aprendemos como viviam os europeus quando vamos ao sul, e as culturas africanas na Bahia. E a variedade de cores de pele, olhos, cabelos, como é rico e belo.

Que triste seria se todos tivéssemos a mesma aparência, o mesmo sotaque, o mesmo modo de pensar... Seríamos como robôs, cópias clonadas, máquinas. Viva a diferença! E é respeitando as diferenças que percebemos que, na essência, somos todos realmente iguais!

*Adriana Macedo é jornalista.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Coluna do Miguel Arcanjo nº 173


Ilustração: Loredano

O senhor vai votar na Dilma, né?

Por Miguel Arcanjo Prado*

Nesta sexta-feira, cheguei morto da redação em casa, gripado, cansado. Meu porteiro me aguardava em frente ao elevador com um sorriso todo simpático no rosto.

Logo pensei: aí vem piadinha pela frente, já que ele tem um humor que nem um tsunami consegue abalar. E qual não foi a surpresa quando ele vaticinou, num tom todo curioso:

- O senhor vai votar na Dilma no domingo, né?

Resolvi jogar pesado e não dei a certeza que ele tanto queria. Contestei com outra pergunta:

- Por quê?

Logo ele me pôs a explicar, num tom professoral.

- Porque ela vai continuar tudo o que o Lula fez pela gente, né? Se o outro ganha eu não boto fé... Muda tudo pra pior.

Fiz-me de rogado e quis saber qual seria esse tão aclamado feito do tal do Lula por todos nós. Ele continuou, mais empolgado e confiante.

- O Lula pagou toda a nossa dívida. Porque antes só queriam ir lá no estrangeiro e pedir emprestado para colocar tudo no bolso. O Lula, não. Ele pagou tudo. A gente agora não deve nada a ninguém.

Continuei dando corda. Seu João respirou fundo e prosseguiu o discurso.

- Agora a gente tem emprego, né. Eu mesmo, já fiquei muito na fila do desemprego e sei como é. E os pobres estão todinhos de barriga cheia. Antes era aquela fome, a gente não conseguia comprar biscoito e iogurte pros meninos. Agora dá para comprar.

Resolvi bancar o indignado e disse que, apesar disso tudo, ainda faltava melhorar muita coisa. Para minha surpresa, seu João concordou.

- Sim, falta muita coisa. Mas o Lula já deixou tudo no ponto para ela fazer. Agora, se o outro ganha, eu não sei não...

Ao ver que o elevador chegava no térreo, ele lembrou-se de satisfazer a sua curiosidade inicial.

- Mas o senhor, “seu” Miguel, vai votar na Dilma domingo, né?

Resolvi terminar logo com aquele sofrimento, até porque estava louco para subir, tomar um banho, comer e me atirar no sofá da sala para ver o debate da Globo debaixo das cobertas. Enquanto entrava no elevador, respondi:

- Vou, sim, seu João. Vou votar na Dilma. E sabe por quê? Porque eu assino embaixo em tudo o que o senhor disse.

*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e fica feliz quando descobre que pessoas a quem admira têm uma visão de mundo parecida com a dele.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Coluna do Miguel Arcanjo nº 172



A simplicidade da felicidade

Por Miguel Arcanjo Prado*

A felicidade é simples como a pluma que o vento leva solta pelo ar, já dizia o poetinha que todos nós amamos, Vinicius de Moraes. Hoje, por exemplo, ela se fez diante dos meus olhos no menino que foi trabalhar com seu pai, motorista de ônibus na linha que liga Buenos Aires a Quilmes, município nos arredores, nesta segunda-feira de feriado argentino.

Feliz, a criança admirava seu progenitor com um olhar expressivo que tudo já dizia. Pequenino, abraçava as pernas de seu pai, concentrado em conduzir o veículo sem perder, contudo, a ternura daquele gesto, homem de tantas responsabilidades e dono de uma profissão que enchia de encanto os olhos daquele menino.

Seu pai era o responsável por conduzir toda aquela gente, cansada e espremida, para seus – poucos e, por isso, tão importantes – minutos de felicidade e paz no restante daquele dia regido pelo sol majestoso que se exibia lá fora pela janela.

A simples saída de Buenos Aires para a pacata Quilmes explicita o que é tão necessário e que, muitas vezes, deixamos de lado: o parar simplesmente para refletir a quanto anda nossa cota de felicidade. Muitas vezes, em nome de muita coisa que vamos esquecer logo depois, deixamos de lado a busca pelo sorriso farto e o bem estar.

Ser feliz é apenas estar em paz. De bem consigo mesmo e com o que há ao seu redor. Se não é possível mudar esse mundo que muitas vezes se pinta cheio de gente feia, careta, direitista e idiota, talvez basta que ignoremos essa turma que não vale a pena e abramos nossos olhos para aquelas pessoas que nos transmitem coisas boas – pode parecer mentira, mas elas existem, sim. Está bem, sei que não são muitas, mas as poucas que restam muitas vezes cruzam nossos caminhos.

E, para ser certeiro nesses momentos preciosos, é preciso estar atento e forte, como na canção do Caetano, sem tempo para temer a morte. É preciso criar o tempo para a vida – de fato, a que vale a pena. Para curtir a simplicidade que a traduz. Porque no final, é o simples que vai ficar. Coisas como um almoço de feriado feito com carinho, o silêncio de uma leitura de jornal compartida, a escolha da boa música que encherá o ambiente de alegria, aquele olhar cheio de silêncio e de significado junto às mãos entrelaçadas sob o sol que atesta que, sim, é possível ser feliz.

*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e é um homem feliz.

sábado, 11 de setembro de 2010

La Mirada Invisible y Los Pecados de Mi Padre



Estou de férias, já há quatro dias em Buenos Aires. Resolvi aproveitar este sábado à noite para ver um filme do qual os dois jornais daqui, o Clarín e o La Nacíon, falaram bem. Trata-se do ótimo "La Mirada Invisible".

A obra é um verdadeiro soco no estômago da hipocrisia que reinava nos tempos da ditadura e volta e meia tenta retornar, com seu culto às regras mediocrizantes. O diretor é Deigo Lerman.

Julieta Zylberberg (a lindíssima da foto acima) arrasa como a protagonista, Maria Teresa, uma professorinha virgem que gosta de se esconder no banheiro masculino do colégio para espiar um de seus alunos, pelo qual nutre uma paixão platônica. Omar Nuñez mostra o talento de sempre como um diretor que representa aquela idiotice chamada "moral e bons costumes", cujo fundo a gente já sabe que é um monte de podridão.

Abaixo, o trailer. Se puder, assista. É realmente ótimo!





Ontem, fui à mostra Panorama Colômbiano do Palais de Glace e assisti a outro filme também muito bom. Dessa vez, o documentário "Los Pecados de Mi Padre", no qual Sebastián Marroquín (o moço da foto acima) passa a limpo a vida de seu pai, Pablo Escobar, o mais famoso narcotraficante do mundo que, no fim da década de 1980, controlou 80% do tráfico de cocaína do mundo todo.

Ao fim da projeção, descobri que estava sentado o tempo todo ao lado da viúva de Pablo Escobar, María Isabel Caballero. Tanto ela quanto seu filho, hoje um arquiteto respeitado, vivem em Buenos Aires. Mas passaram por maus bocados até chegarem aqui, como bem mostra o filme.

Sebastián apareceu após os créditos finais em carne e osso e pegou uma plateia emocionada com o conteúdo maior do documentário: o pedido de perdão dele aos filhos de Luis Carlos Gallán, líder político colombiano que seu pai mandou matar.

Ao fim do debate, Sebastián me contou por que aceitou fazer o filme: "Quis que nada sobre a vida de meu pai ficasse oculto, porque queria construir uma mensagem através da história de vida dele, para que ela não se repita. Achava muito egoísta da minha parte não compartilhar a lição de vida que aprendi. Quero que esse filme seja visto pela maior quantidade possível de jovens, para que ele ajude a mudar o futuro."

Faz ele muito bem. Para quem se interessou pelo documentário dirigido por Nicolás Entel, abaixo, o trailer:

sábado, 4 de setembro de 2010

domingo, 22 de agosto de 2010

Coluna do Miguel Arcanjo nº 171

Que saudade da Cássia!

Por Miguel Arcanjo Prado*


Uma coluna como esta às vezes traz boas surpresas. A última, deliciosa, foi um e-mail que recebi de Cássia Teixeira Campos, minha melhor amiga dos tempos de colégio, hoje turismóloga respeitada com diploma da Universidade Federal de Ouro Preto. Em seu e-mail, com razão, Cássia queixou-se do meu desaparecimento e de só saber das minhas andanças por meio de meus textos. E confessou: anda muito nostálgica nesses dias.

Eu também. Que saudade dos tempos em que acordava às seis da manhã, tomava o café correndo e descia desenfreado a rua Madre Tereza, cruzava as avenidas Vilarinhos e Padre Pedro Pinto até chegar à rua de Cássia, onde batia em seu portão e ela aparecia sonolenta para, juntos, caminharmos até a Escola Estadual Santos Dumont, em Belo Horizonte, onde cursamos juntos o Ensino Médio.

Cássia chegou na escola ressabiada, vinda de Três Corações, no sul de Minas, transferida com a família para a capital. Logo, com seus cabelos pretos encaracolados que contrastavam com os olhos verdes enormes, conquistou todo mundo. Se bem que nosso colega Ricardo de Andrade Barcellos, hoje terminando o curso de engenharia civil na UFMG, sempre teimou que os olhos da Cássia são azuis. Eu nunca soube esta verdade.

Inteligentíssima, Cássia sempre rivalizou comigo e com Thiago Nascimento Rodrigues – o CDF da sala – em quem tinha as notas mais altas da turma. Mas, ao contrário de Thiago, que adorava competir, Cássia nem ligava para isso, já que não concentrava seu saber apenas na matemática ou história, mas também nas relações humanas. Em poucas semanas ela já era a menina mais popular da sala. Todo mundo queria ser amigo da Cássia.

Escritora nata, adorava mandar cartas para as amigas que havia deixado em Três Corações, para as quais, em pouquíssimo tempo, passei a escrever também, fazendo uso do selo social, dádiva governamental que permite mandar carta de até dez gramas pagando apenas um centavo – é assim até hoje.

Politizada, Cássia era esquerdista, sonhava em ver o Lula presidente e tinha pavor quando eu falava que ACM era bom para a Bahia, influenciado pelo pensamento de minha madrinha, Zélia Gattai. Ela queria me matar.

Culta, vivia na biblioteca. Lia Machado, Guimarães, Jorge. Mas nunca ganhou de mim na quantidade de livros retirados por ano. Nessa categoria sempre fui imbatível, com no mínimo 60 livros lidos no ano letivo, o que me fazia o queridinho da bibliotecária.

A volta da aula, no horário do almoço, também sempre era uma festa. Levávamos horas, parando em todas as lojas possíveis da avenida Padre Pedro Pinto. Mas uma era obrigatória: a paradinha no supermercado Êpa, para comprar sorvete. Na maioria das vezes, Cássia pagava para mim. De morango, eu pedia.

E as festas da Cássia, então? Todo o colégio disputava a dádiva de ser convidado. Aniversariante em pleno Dia de Finados, 2 de novembro, ela nunca se fez de rogada. Muito pelo contrário, aproveitava o feriado para encher a casa de gente.

Os 18 anos da Cássia, às vésperas da chega do fatídico ano 2000, foi um verdadeiro acontecimento, uma espécie de catarse coletiva, já que o nosso segundo grau chegava também ao fim naquele ano cheio de presságios. Era o fim de uma era e à nossa frente restavam apenas a incerteza dos vestibulares da UFMG e da UFOP. Por isso, todos naquela festa aproveitamos cada minuto para esquecer a vida adulta que teimava em bater à porta.

De família vinda de São João Evangelista, cidadezinha nos arredores de Guanhães, no leste de Minas, fartura sempre foi palavra pequena para definir as festas de Cássia: churrasco, arroz à grega e salpicão – cuja receita foi incorporada por minha mãe, que chama o prato delicioso até hoje de “Salpicão da Cássia” –; e também bolo e toneladas de sorvete em potes industriais.

Foi nos 18 anos da Cássia que beijei pela primeira vez a minha primeira namorada, Bruna Lima, hoje fazendo mestrado em Letras, em Paris. Foi bem no finzinho da festa, jamais vou me esquecer. Cássia armou tudo nos mínimos detalhes até ficarmos os dois, sozinhos, no portão de sua casa. É claro que não tinha como não rolar. Danada, essa Cássia. Que saudade!

*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e faz questão de estar na próxima festa da Cássia.

domingo, 8 de agosto de 2010

Amigo é coisa pra se guardar...


Os verdadeiros amigos são para sempre. Como é o caso de Rafael Brischiliari, meu amigo "Paraná" dos tempos do curso de comunicação na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, a Fafich, na UFMG. Posso ficar meses e até anos sem vê-lo, mas quando a gente se reencontra, é como se o último tchau tivesse soado há menos de 24 horas. A fotógrafa Daia Oliver registrou nosso encontro mais recente, no dia 9 de junho de 2010, em São Paulo. Com Rafa e eu lado a lado nunca há tempo feio. A gente sempre se entende.

Coluna do Miguel Arcanjo nº 170

No primeiro debate, venceu o futebol

Por Miguel Arcanjo Prado*


Tudo bem, eu já sei que ninguém viu inteirinho o primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República na noite da última quinta, na Band. Mas como os tempos são do controle remoto, é claro que todo mundo deu uma passadinha para conferir como o quarteto fantástico estava se saindo. O resultado foi único: uma dureza só.


Saudades dos tempos em que o debate era a própria representação do bem contra o mal. Como em 1989, com o barbudão Lula contra o mauricinho Collor. Os tempos da Nova República até davam ao telespectador o direito escolher, de acordo com suas faculdades mentais, quem era o bem e quem era o mal. Se bem que depois a Globo editou tudo e escolheu quem era o herói – que pouco tempo depois virou o vilão...

Na eleição atual a briga só esquenta quando entra na pauta a falta de carisma. Talvez seja por isso que o Plínio Arruda Sampaio, o candidato do PSOL, tenha sido o bamba do primeiro debate, figurando como o rei dos comentários no Twitter, a tal rede social na qual todo mundo sai falando o que bem entende. Com sua cara de duende mágico, Plínio não demonstrou vergonha alguma ao propagar seu pensamento político em desuso desde que os crimes de Stalin foram revelados. Mas pelo menos ele divertiu a plateia. Aliás, foi a única diversão.

Marina Silva, pobrezinha, foi a certinha de sempre quando o assunto era ecologia, mas faltou-lhe viço. Ficou lá em sua bancada, fraquinha, magrinha, toda corretinha. A representante do Partido Verde não renegou o passado petista, não atacou os tucanos. Só queria mostrar sua proposta cheia de boas intenções para um futuro sustentável para todos nós. Que bom, né?

Agora, quando a câmera chegou aos dois protagonistas da eleição, foi difícil saber quem tentava melhor esconder a alma de lobo sob a pele de cordeiro. Mas logo um deles se sobressaiu: o tucano José Serra, bem mais preparado para o jogo midiático do que a petista Dilma Rousseff.

A candidata de Lula mostrou que está a anos-luz do traquejo de Serra diante das câmeras. O ex-governador de São Paulo consegue fingir melhor ser simpático – se bem que a filha dele pediu que o político sorrisse mais. Dilma ainda está carrancuda, claramente desconfortável com essa história de maquiagem e falar para a câmera certa. Mas até que tentou, tadinha. Se não acertou, pelo menos não errou. O que já é um grande saldo.

O resultado de tanta falta de gosto foi o que aconteceu: míseros 3 pontos no Ibope para do debate presidencial, contra 31 do jogo entre Inter e São Paulo pela Libertadores, exibido pela astuta Globo. No primeiro debate, venceu o futebol.

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É completamente estapafúrdia a Lei Eleitoral que proíbe os humoristas de fazerem piada com os candidatos. Agora, nem rir dos excomungados a gente pode mais. CQCs, Pânicos e Cassetas já anunciam uma passeata contra a censura que deve sacudir a praia de Copacabana no próximo dia 22. O Brasil está cada vez mais careta. E sem graça. Pobres de nós!

*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e a favor do desbunde.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Bastidores: Inezita e Cauby

No dia 16 de junho de 2010, tive o prazer de entrevistar dois monstros da cultura brasileira. Primeiro foi a vez de Inezita Barroso, que completava 30 anos de seu programa, o Viola, Minha Viola. Depois, foi a vez de Cauby Peixoto, que se apresentava no Memorial da América Latina, em São Paulo. A competente fotógrafa Julia Chequer fez o registro para a posteridade. Taí:



domingo, 25 de julho de 2010

Coluna do Miguel Arcanjo nº 169


Eve

Por Miguel Arcanjo Prado*


Esta é primeira coluna feita por encomenda de um leitor. No caso, uma leitora. E que leitora. Outro dia, encontrei-me com ela, Silvana Garzaro, a maior fotógrafa de celebridades deste país, na estação de ônibus Amaral Gurgel, em Santa Cecília, no centro de São Paulo. Conversa vai, conversa vem, lembrei-me de contar a ela que, até que enfim, havia assistido ao filme A Malvada, ou All About Eve, no título original em inglês.

Peguei o DVD emprestado com a amiga jornalista Gabriela Quintela, que não é boba nada e tem a preciosidade em sua coleção. Satisfeita com a notícia, afinal de contas desde os tempos em que formávamos a mais divertida dupla de reportagem da revista Contigo! Silvana vivia insistindo para que visse o filme, ela sugeriu: “Por que você não escreve sobre A Malvada em sua coluna?”. Pedido de Silvana é ordem.

Para quem não viu – o que é inadmissível; portanto, corra urgentemente para resolver esse grave problema –, uma breve sinopse: o longa de 1950 dirigido por Joseph L. Mankiewicz conta a história de Margo (Bette Davis), atriz consagrada que vê sua vida ser transformada com a chegada da doce Eve (Anne Baxter), uma jovem aspirante a atriz.

Como um oráculo, o filme é uma verdadeira bíblia das relações humanas, sobretudo no campo profissional regado a muito glamour e pavonices, como o é o do jornalismo, o da fotografia e o das artes. Só depois de ver o filme é que você, meu caro leitor, entenderá o porquê de, sempre que vê nas pautas da vida jovenzinhos mal saído das fraldas e todos cheios de si e, principalmente, deslumbrados com o grand monde, Silvana dispara com a certeza de um pajé: “Eve!”

E as Eve são muitas. Vivem espalhadas por todos os cantos, mantendo seus jeitinhos dóceis e subservientes até estarem certas de que seu bote será infalível e que vão conquistar aquilo que tanto almejam. Elas são ótimas em interpretação. Dão banho em qualquer Fernanda Montenegro por aí. Se bem que algumas deixam, em algum momento, escapar uma certa dose de canastrice, até porque representar oito, 12 horas por dia não é lá coisa muito fácil. É aí que a atenção é fundamental. Esses pequenos momentos são reveladores.

É claro que também o sexto sentido ajuda. Mas esse é impossível ensinar, já que Deus o concede apenas a alguns. Graças a Deus, fui agraciado; assim como meu primo Caio Silva, sempre por perto. É esse dom que permite, com um só olhar de raio X, descortinar por trás da alma pretensamente dócil a víbora que se esconde. Porque, meu caro leitor, energia é impossível de se conter.

Para quem não tem lá esse trânsito para as coisas que não se veem, mas se sentem, fica uma preciosa dica. Quando se aproximar de você uma pessoa muito boazinha, solícita e elogiosa, sobretudo se tiver em posição inferior e você perceber nela uma dosinha que seja de ambição, pode saber: é Eve! Simples assim. Por mais que ela se esgueire em sorrisos e salamaleques, esteja certo de que, mais dia menos dia, o bote virá. E você, com toda a certeza, nesse momento poderá decretar, tal qual Silvana Garzaro: “Eve!”

*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e pretende ver novamente o filme A Malvada.

sábado, 10 de julho de 2010

Coluna do Miguel Arcanjo nº 168

Claudia Leitte e eu

Por Miguel Arcanjo Prado*



Miguel Arcanjo e Claudia Leitte fotografados por Julia Chequer

A primeira vez que ouvi Claudia Leitte foi logo quando ela estourou com a banda Babado Novo. Estava em Belo Horizonte ainda, e Gabriel, meu irmão caçula, gostava de escutar aquela loirinha surgida na Bahia. A música dela falava mais a ele do que a mim e não dei muita bola.

A primeira vez que vi o rosto de Claudia Leitte foi pela TV, sentada no sofá da Hebe pela primeira vez. Também não liguei muito, assim como quando a minha editora durante meu estágio na Globominas.com, o portal da TV Globo Minas, vivia a cantarolar a música da moda de então, "Bola de Sabão". Achava até engraçadinha a canção. Mas era só isso.

A primeira vez que conversei com Claudia Leitte foi por telefone, ou "via Embratel", como ela prefere dizer, citando Cazuza. Era 2007, já estava formado, em São Paulo, trabalhando como repórter da revista Contigo!. Precisava fazer uma matéria sobre sua lua de mel em Las Vegas. Falamos quase uma hora ao telefone. Ela sempre solícita e fazendo o papo cada vez mais agradável. Ficou uma boa impressão.

A primeira vez que vi Claudia Leitte foi poucos meses após essa conversa. Ela estava no estúdio de André Schiliró, em São Paulo. Eu ao lado da parceira e ótima fotógrafa Silvana Garzaro estávamos incumbidos de fazer o making of. A entrevista correu solta. Fizemos a pauta completinha. Ao fim, Claudia me perguntou: "Está bom de entrevista?". Eu disse que sim, certo de que ela fosse encerrar a nossa estada por ali. Então, ela me surpreendeu com um convite sorridente: "Vamos então ficar batendo papo". Falamos de faculdade, de amor, rimos, imitamos gente, cantamos, enfim, amizade à primeira vista ao perceber que dividia muita coisa com aquela menina da mesma geração que a minha, apenas um ano e meio mais velha do que eu.

A primeira vez que vi Claudia Leitte no palco foi quando, ainda desconhecedor de sua música, fui ver um show que ela fazia para uma marca de barbeador. Fiquei bem na frente e qual não foi a minha surpresa ao perceber que Claudia cantava as músicas olhando nos meus olhos. Depois, num outro encontro, ela confirmou, deixando-me encabulado: "Aquele show eu fiz para você".

A última vez que vi Claudia Leitte foi no sábado passado. Aguardava ao lado da imprensa carioca o começo da entrevista de lançamento de sua nova turnê, Rhytmos, no Riocentro. Quando ela entrou, atravessou a sala, deixando fotógrafos em polvorosa, e caminhou até o canto onde eu estava. Para minha surpresa, deu-me um carinhoso abraço e um beijo no rosto. Só depois desse gesto tão breve, mas tão significativo para mim e para ela, foi que que tomou lugar no centro da roda.Ao fim do show, chegou para mim e disse, no pé do ouvido: "Sei que a gente não tem muito tempo, mas um dia a gente vai ter. O importante é que eu te amo e sei que você me ama". É verdade, Claudia. E é por você ser essa mulher linda que hoje, no dia de seus 30 anos, digo apenas: Parabéns, menina, e que Deus te abençoe muito!

*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e, por ironia da vida, só passou a ter um disco de Claudia Leitte há três semanas.

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domingo, 20 de junho de 2010

Coluna do Miguel Arcanjo nº167

Viva São João!

Por Miguel Arcanjo Prado*




Bandeirinhas coloridas – em tempos de Copa, verdes e amarelas –, como nas pinturas de Volpi (na foto, acima), são a cara dos festejos juninos. Com o São João às portas, resolvi passar o restinho que sobrou do domingo após a vitória do Brasil em cima da Costa do Marfim em um lugar que tivesse cheiro de quentão.

Como não sou bobo, corri para o largo Padre Péricles, onde fica a Igreja de São Geraldo das Perdizes, bem ao lado da casa da minha irmãzinha em São Paulo, a jornalista Gabriela Quintela. Lugar como esse não há. Nem parece São Paulo nesta época do ano. Tem jeito de interior.

Além do cheiro onipresente de quentão, barraquinhas de comidas típicas – as mais deliciosas gostosuras já feitas – circundam o largo, com um palco ao fundo. Nele, uma animada banda de forró comanda a noite ao som de clássicos de Gonzagão. Nem a moça do pastel resiste à boa música e balança no ritmo sem-vergonha enquanto prepara sua fritura.

E para os amantes do bom tacho, como o é todo mineiro, tem canjica, arroz doce, mingau de milho verde, broas e bolos variados, cachorro quente, churrasquinho... É mesmo o paraíso. E o melhor: os preços são justos. Uma cartela de R$ 15 em fichinhas ainda dá direito a concorrer a uma prenda – adoro essa palavra junina.

O clima estava tão gostoso que até pensei por algum momento estar numa das barraquinhas do bairro da minha infância em Belo Horizonte. Tudo tem gosto de felicidade.

Se você está em São Paulo e não é bobo, fica a dica: a quermesse no largo Padre Péricles vai até o dia 4 de julho, todos os sábados e domingos, a partir do pôr-do-sol. Se não está em Sampa, não se preocupe. Corra para a quermesse mais próxima. Com certeza há de ter uma e você será feliz.

******

Caio Silva, meu primo tão querido, passou o verão em Salvador da Bahia e me trouxe de lá dois discos fundamentais. O primeiro é um compilado pirata de todos os sucessos do Olodum, sobretudo aqueles dos primeiros tempos da banda filha do gênio Neguinho do Samba. É de impressionar até hoje não só a força do ritmo do grupo, mas as letras cheias de inteligência, consciência e protesto.

O outro disco é de Jauperi (na foto, abaixo), uma das melhores coisas que a Bahia produziu nos últimos tempos. Além da voz cativante, ele fez versões lindas para músicas como Alegria, Alegria, de Caetano, e Drão, de Gil. Jauperi mostra competência como compositor em faixas como Cidade dos Poetas e Sandália de Couro. Quem pensa que a Bahia só produziu cantoras ultimamente está redondamente enganado. Jauperi vai longe.




*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e gosta de canjica e arroz doce.

sábado, 5 de junho de 2010

Coluna do Miguel Arcanjo nº 166

O significado da derrota de Martinho da Vila na ABL

Por Miguel Arcanjo Prado*



A Academia Brasileira de Letras, a ABL, instalada no pomposo palácio do Castelo, na região central do Rio, elegeu nesta semana seu novo membro. Aos 71 anos, o diplomata e escritor pernambucano Geraldo Holanda Cavalcanti abocanhou a cadeira de número 29. A vitória foi bonita, com 51% da preferência dos acadêmicos: dos 39 votos possíveis, recebeu 20. Mas o mais intrigante dessa eleição dos imortais não está no vitorioso, mas, sim, na lista dos que ficaram de fora.

Além de Cavalcanti, concorriam também o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Muniz Sodré, o ministro do Supremo Tribunal Federal Eros Grau, e o sambista Martinho da Vila. É aí que mora o x da questão. Dos 19 votos que sobraram, Grau ficou com dez, e Sodré, com oito. O último foi em branco. Martinho não recebeu um votozinho sequer. Isso mesmo, o mestre do samba da Vila Isabel não conseguiu convencer nem o mais gagá dos velhinhos da ABL a depositarem seu nome na urna. E isso mesmo depois de levar a bateria da Vila Isabel para uma animada roda de samba no Palácio Trianon promovida em parceria com o presidente da casa, Marcos Vilaça. Nem isso foi suficiente para modernizar as velhas cabeças responsáveis pela língua brasileira.

Ao não votar em Martinho, a ABL manda um recado. Considera-se bem distante – e, por que não?, bem melhor – do que essa culturazinha inferior feita por gente pobre – e preta – exemplificada pelo samba de Martinho da Vila. A razão da não-eleição do compositor da zona norte é a mesma que fez a ABL rejeitar por duas vezes o jornalista negro e homossexual João do Rio (1881-1921), que só conseguiu a vitória em sua terceira tentativa, há exatos cem anos. Em sua posse, atrevido como só, fez questão de não usar um fraque qualquer – mandou costurar uma vistosa vestimenta, instituindo o famigerado fardão. Quem sabe na terceira tentativa Martinho não tem a mesma sorte que João do Rio? Resta sonhar.

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Mesmo falando as mesmas coisas que já havia dito quando voltou à TV, no dia 8 de março último, Hebe Camargo, aos 81 anos, é a entrevistada da volta de Marília Gabriela ao SBT neste domingo e da revista Veja desta semana. Pouco importa que não seja material novo. O que interessa é que ela tem uma vontade de dizer a todo mundo o quanto ama a vida. No ano passado, na semana em que completou 80 anos, Hebe me deixou isso claro enquanto conversávamos em seu camarim no SBT. Rindo à beça, contou-me que comemoraria o aniversário na Disneylândia. Quando nos despedimos, fez questão de apertar minhas bochechas, me chamando de “gracinha” – coisa que costuma fazer sempre que nos encontramos nas pautas da vida. Dá gosto ver Hebe celebrada e saltitando por aí nas festas paulistanas. Dá orgulho de ser contemporâneo desta mulher, mesmo ela tendo nascido em 8 de março de 1929 e eu, em 3 de dezembro de 1981. Dá vontade de acreditar que Hebe vai durar para sempre. Oxalá.

*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e não tem muita paciência para velhinhos conservadores.

PS. Abaixo, uma belo registro do carisma de Hebe feito pela minha parceirinha de pauta, a fotógrafa Julia Chequer, para o R7, no dia em que ela voltou à TV:

sábado, 15 de maio de 2010

Entrevista exclusiva: Silvio de Abreu

Silvio de Abreu rejeita público que vê novela por não ter mais o que fazer

Em conversa exclusiva com o R7, novelista fala sobre a próxima novela das oito


Miguel Arcanjo Prado, do R7

Publicado originalmente no R7 em 11/05/2010


Silvio de Abreu e Tony Ramos - Foto: João Miguel Jr./Globo

O paulistano Silvio de Abreu, 67 anos, já está completamente mergulhado na loucura que é escrever o programa mais visto pelos brasileiros: a novela das oito da Globo. Nesta segunda (17), estreia seu 15º folhetim, Passione. A trama de elenco estelar tem a missão de alavancar a audiência, após Viver a Vida, de Manoel Carlos.

Atencioso, Silvio de Abreu aceitou o convite para uma conversa com o R7 sobre seu próximo trabalho. O autor disse rejeitar o telespectador que acompanha as novelas apenas por não ter nada melhor para fazer: “Quero distância desse público”. Sua meta é dialogar com alguém apaixonado e envolvido com a história que vai criar.

Abreu ainda comentou a predileção por nomes da velha guarda da TV, como Fernanda Montenegro e Tony Ramos, e explica por que escolheu São Paulo e Itália como cenários de sua trama. Ele ainda contou que teve papel decisivo na escolha do elenco e revelou que apenas sete atores não tiveram personagens escritos sob encomenda.

Sobre o grande assassinato por volta do centésimo capítulo do qual boa parte dos personagens será suspeita, ele faz mistério, mas adianta que não será um serial killer, além de uma dica importante ao telespectador. Leia a entrevista.

R7 – O elenco de sua novela é estelar e impressiona por ter nomes como Fernanda Montenegro e Tony Ramos. Foi difícil conseguir formá-lo? Quais nomes você fez questão que estivessem e para os quais escreveu os personagens? Por que?
Silvio de Abreu –
Belíssima tinha Fernanda Montenegro e Tony Ramos; A Incrível História das Filhas da Mãe no Jardim do Éden tinha Fernanda Montenegro e Tony Ramos. Para mim é sempre um privilégio poder contar com esses dois magníficos atores. Não é difícil para eu formar elenco, nem entendo quando dizem que na Globo, hoje em dia, é muito difícil etc e tal. Os atores e as atrizes recebem sempre de boa vontade o convite e o meu maior problema é sempre ter que dizer não a artistas que admiro, que gostaria de ter no elenco, mas não tenho personagens adequados a eles. Quase todos os atores principais de Passione tiveram personagens escritos para eles, porque eu já sabia que poderia contar com o talento deles no elenco. As exceções foram: Tammy Di Calafiori, Mayana Moura, Miguel Roncato, Andre Luis Frambach, Carol Macedo, Bianca Bin e Julio Andrade, que eram atores que eu não conhecia e passei a conhecer graças ao excelente trabalho de garimpagem do nosso produtor de elenco, Daniel Berlinsky, e da intuição certeira de Denise Saraceni.

R7 – Sua novela vai mostrar uma São Paulo frenética e uma Itália rural. Por que você escolheu conjugar esses dois ambientes?
Abreu –
Primeiro, porque são opostos e isso dará uma excelente dinâmica para a novela. Depois, porque gosto e conheço os dois. Denise Saraceni e eu visitamos quase 5.000 quilômetros de terras da Toscana na escolha das locações e estudo dos hábitos e costumes dos italianos. Vivo em São Paulo desde que nasci e já morei por um ano na Itália na década de 70. Sinto-me em casa nos dois ambientes.

R7 – Sua trama traz de volta gente veterana de muito talento como Fernanda Montenegro, Leonardo Villar, Cleyde Yáconis e Aracy Balabanian. Por que você faz questão desses nomes? Qual o papel deles em seu elenco? Gosta de criar personagens para essa turma? Por quê?
Abreu –
O que eu mais aprecio no ser humano é o talento. Quando um enorme talento vem acompanhado de um grande carisma, tudo se completa e criam-se as estrelas de teatro, cinema e televisão. Não existe um time mais carismático e talentoso do que o que vamos oferecer diariamente ao público brasileiro. Escrever para atores tão consagrados é uma grande responsabilidade, mas também um enorme prazer.

R7 – Tem algum personagem que você gosta mais? Por quê?
Abreu –
Não tenho nenhum preferido, cada um é principal em seu próprio núcleo e será tratado com o maior carinho por mim.

R7 – Sua novela vem após uma crise de audiência no horário das oito. Acha que Passione tem elementos para cativar o público e levantar a audiência no horário? Quais elementos são esses?
Abreu –
Não estou preocupado com isso e nem sei dessa tal crise de audiência de que você está falando. O programa de maior audiência da televisão brasileira não é a novela das 21h? Então que crise é essa? Quero que o público goste de Passione, que se divirta, que torça, que se envolva com a história e com os personagens. Quero que discutam, contestem, elogiem, critiquem e façam o que forem estimulados pela novela a fazer. Só não quero que fiquem apáticos diante do televisor. Odeio a ideia de que as pessoas assistem a novelas porque não têm nada melhor para fazer. Não quero esse público. Quero um público que goste de acompanhar a história por prazer e sei que cabe a mim, à Denise Saraceni e ao nosso elenco despertar esta emoção.

R7 – Como será o assassinato no meio da trama de Passione?
Abreu –
Você vai saber tudo quando chegar a ocasião, ainda é muito cedo para essas especulações. Posso garantir que não será um serial killer. A única dica que posso dar sobre este assunto é que se preste muita atenção no comportamento dos personagens nessa primeira fase da história, que vai mais ou menos até o capitulo cem. A parte policial da novela só vai entrar depois disso, mas tem a ver com essa primeira fase, portanto, olho vivo!

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Negro é coadjuvante em sua própria história na TV

Folhetins que retratam a escravidão ainda contam os fatos a partir do olhar dos brancos



Miguel Arcanjo Prado, do R7

Nas histórias que a TV brasileira conta sobre a escravidão no Brasil é comum ver atores negros ocuparem papéis coadjuvantes e atores brancos serem os protagonistas. Neste 13 de Maio, data em que é celebrada a abolição da escravatura no Brasil, a reportagem do R7 foi atrás de descobrir o por quê desse tipo de representação.

DivulgaçãoFoto por Divulgação
Veja escravos nas tramasIgual aos brancos: a ex-escrava Xica (Taís Araújo) até usava pó de arroz para clarear o rosto

Para Daniel Martins, mestre em sociologia pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a representação dos escravos nas novelas e minisséries repete a história que os brasileiros aprendem na escola.

- A novela é apenas mais um espaço no qual é reproduzido o discurso que aprendemos nos livros de história, no qual o negro ainda é apenas o escravo que foi liberto por bondade da princesa Isabel [que assinou a libertação dos escravos em 1888].

O sociólogo faz questão de lembrar a primeira novela brasileira protagonizada por uma atriz negra: Xica da Silva, protagonizada por Taís Araújo na extinta Manchete entre 1996 e 1997.

- Ela era protagonista, sim. Mas conseguiu se tornar mulher do contratador de diamantes, teve escravos e assumiu a identidade branca. Ela até passava pó de arroz no rosto, para ficar com a pele clara.

Martins afirma que ainda falta na TV uma produção que retrate o cotidiano do Brasil escravocrata a partir do olhar dos habitantes da senzala, mas se mostra descrente em relação à receptividade do telespectador.

- Acho que o brasileiro ainda é preconceituoso e não sei se uma novela assim teria bons índices de audiência. Por isso, acho difícil essa revolução acontecer. Na TV, como em Sinhá Moça, os negros ainda precisam ser salvos pelos brancos. A novela ainda não conseguiu sair da casa grande e ir de fato para a senzala.

Atriz da Record, Maria Ceiça afirma que não acredita que o público tenha preconceito, mas, sim, esteja desacostumado em ver o olhar do negro em primeiro plano.

- As novelas ainda contam a história a partir do olhar do dominador. O telespectador sempre trata com carinho os personagens negros. Mudar o olhar da história seria interessantíssimo e creio que teria boa recepção por parte do público.

A atriz, que recentemente viveu a serva Quinlá na minissérie A História de Ester, torce para que a Record continue investindo na produção de épicos e até sugere uma história bíblica em que o negro tivesse destaque.

- A rainha de Sabá era negra e teve muito destaque... Quem sabe não vem por aí a história do rei Salomão?

Publicada originalmente no R7 em 13/05/2010.

Nara Lofego Leão

Narinha...
Sempre fui apaixonado por ela. Não sei se porque ela sempre me lembrou minha mãe...
Quem mora em Sampa, pode ver o musical sobre a cantora cheia de opinião idealizado pela ótima atriz Fernanda Couto, que interpreta a cantora. Quem se interessou e quer saber mais, é só ler a crítica e a reportagem sobre o musical feitas por mim para o portal R7 sobre o espetáculo, logo abaixo, com fotos do espetáculo e da Narinha de verdade.










CRÍTICA:Musical Nara acerta na beleza da simplicidade

Fernanda Couto e seus três músicos criam atmosfera aconchegante para a musa da MPB

Miguel Arcanjo Prado, do R7


Nara Leão foi muito mais do que a musa da bossa nova ou a moça que tinha os mais belos joelhos da MPB. Apesar de sua meiguice evidente em cada canção ou entrevista, Nara tinha força, presença e, antes de tudo, opinião. A famosa opinião de Nara.

O musical que leva o nome da artista, em cartaz no teatro Augusta, em São Paulo, às quartas e quintas, tem o mérito de reavivar a memória da cantora, em tempos cada vez mais desmemoriados. A atriz Fernanda Couto, que vive a artista no palco e é responsável pela gestão do espetáculo, surge despretensiosamente no corredor do teatro ao som de Diz que Fui por Aí. O público olha para trás em busca da dona daquela voz e, a partir daí, a música de Nara se faz.

Sob direção de Márcio Araújo e direção musical de Pedro Paulo Bogossian, Fernanda é acompanhada no palco por três excelentes músicos: Rogério Romera, Sílvio Venosa e Rodrigo Sanches. Além de tocar e fazer coro, eles fazem às vezes de atores, interpretando os homens que passaram pela vida de Nara. E que homens: Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli e Cacá Diegues são apenas alguns de uma extensa lista que engloba boa parte da cultura nacional na segunda metade do século 20. E o trio de músicos tem a graça e virilidade necessárias para contrabalancear a meiguice de Nara.

Com açúcar e com afeto, Fernanda – que tem a mesma beleza simples da cantora – ora vive a própria Nara ora fala dela na terceira pessoa, como uma artista em busca de outra tão semelhante de si. Há momentos de extrema consternação, quando a plateia vira o público dos famosos festivais da Record nos anos 1960 e canta em uníssono A Banda junto do elenco. E ainda emocionantes, como quando o público percebe que Nara já sente reflexos do tumor cerebral, que a matou em 7 de junho de 1989 com apenas 47 anos de idade, mas que jamais conseguiu calar a voz da menina mais doce que já existiu em nossa música.

O mérito do musical Nara é, em tempos de cenários mirabolantes e elencos grandiosos de produções importadas da Broadway, mostrar que a beleza pode estar escondida em um tipo de arte que só existe por aqui, arte da qual Nara foi e é porta-bandeira.

Nara
Quando:
quartas e quintas-feiras, às 21h (temporada: de 21/4 a 24/6)
Onde: Teatro Augusta - r. Augusta, 943, Cerqueira César, São Paulo, SP
Quanto: R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada)
Informações: (11) 3151-4141; classificação livre

Publicado no R7 no dia 13/05/2010.












REPORTAGEM
Musical em São Paulo revive Nara Leão

Atriz Fernanda Couto vive a musa da bossa nova e grande intérprete da MPB

Miguel Arcanjo Prado, do R7


Foi a partir do apartamento de Nara Leão que a bossa nova ganhou expressão. A musa do movimento depois descobriu nomes que vão de Chico Buarque a Maria Bethânia, além de fazer o histórico show Opinião, no qual deu foco a sambistas dos morros cariocas.

Lenise Pinheiro e DivulgaçãoFoto por Lenise Pinheiro e Divulgação
Nara em duas versões: a atriz Fernanda Couto (à esq.) e a Nara original (à dir.)

Passagens como essas mudaram a história da MPB e serão contadas no musical Nara, que estreia em São Paulo nesta quarta (21), às 21h, no teatro Augusta, com a atriz Fernanda Couto no papel título.

A montagem é fruto de pesquisa da própria Fernanda, apaixonada por Nara desde criança, quando a ouvia no rádio. No palco, será a única mulher na companhia dos atores-músicos Rogério Romera, Sílvio Venosa e Rodrigo Sanches, sob direção de Márcio Araújo e direção musical de Pedro Paulo Bogossian.

- Nara sempre estava cercada de figuras masculinas, como Ronaldo Bôscoli [de quem foi namorada], Chico Buarque [o grande amigo] e Cacá Diegues [com quem casou].

A atriz teve a ideia do espetáculo em 2007, quando passou a pesquisar a vida da cantora. O projeto foi adiado para não bater com os 50 anos da bossa nova, celebrados em 2008. A pesquisa minuciosa trouxe farto material.

- Todas as frases que a Nara diz na peça foram ditas por ela mesma em entrevistas.

O espetáculo segue a ordem cronológica da vida da cantora, dos 11 anos 47 anos, quando ela morreu de câncer. A trajetória é ilustrada por uma seleção de 20 músicas de seu repertório, como A Banda e Opinião.

Ouvir Nara traz nostalgia para a jornalista Tellé Cardim, editora de Cultura da Record. Ela foi responsável pela divulgação da cantora em São Paulo na década de 1960.

- Depois do Festival da Record de 1966, no qual ela tirou o primeiro lugar com A Banda, ao lado de Chico Buarque, Nara me telefonou e perguntou se eu queria ser assessora de imprensa dela. Eu aceitei e a acompanhava nas entrevistas e em shows no interior.

A jornalista lembra com carinho da amiga que conheceu em um almoço na casa do dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho, criador da série A Grande Família.

- Ela era muito inteligente e caseira. Nara gostava de pesquisar a música brasileira. Não tinha preconceito e possuía posicionamento político, sempre apoiando a esquerda. Era uma pessoa especial e que faz falta. Espero que esse espetáculo mostre à juventude atual a importância que Nara teve na história do Brasil naqueles anos de chumbo.

Para o sociólogo Daniel Martins, pesquisador da MPB na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Nara marcou seu nome na história “ao dar voz a grandes compositores ainda desconhecidos”.

- Nara tinha um respaldo muito grande. Ela dava luz a qualquer coisa que cantasse. Esse foi seu grande legado. Ela transitou bem por todos os núcleos da MPB, da qual foi uma das maiores estrelas.

Publicado no R7 no dia 21/04/2010.

domingo, 9 de maio de 2010

Paulo José e filha decifram enigma Ana C.



Por Miguel Arcanjo Prado*

A poeta carioca Ana Cristina César, ou apenas Ana C., era uma mulher inteligente. E atormentada por isso. O ator Paulo José a conheceu na Globo, quando escrevia o programa Caso Verdade, no início dos anos 1980, e se incomodava com as opiniões dilacerantes dadas pela exigente Ana C., então avaliadora dos roteiros, sobre os textos que escrevia.

O ator retoma essa mulher de seu passado na peça Um Navio no Espaço ou Ana Cristina César, que estreia neste sábado, no Sesc Santana. Na montagem, Paulo José conta com a companhia da filha, Ana Kutner, que vive a poeta suicida.

Após várias tentativas frustradas, Ana conseguiu se matar aos 31 anos, em 1983, ao pular da janela do apartamento dos pais, em Copacabana.

A peça, vista pelo R7 no Festival de Curitiba, no último mês de março, traz uma mulher cheia de ideias e pensamentos sobre o mundo desde que se entende por gente. Paulo José funciona como uma espécie de narrador, que se confunde com ele mesmo, ao margear os pensamentos da poeta interpretada pela filha, muitas vezes cercados de desespero.

Ana C., ícone da chamada “geração do mimeógrafo” dos anos 1970, surge para o público a partir de seus escritos e, aos poucos, é possível ao menos tatear aquela que tanto se escondia. A dramaturgia construída por Walter Daguerre, marido de Ana Kutner, sobre o texto de Maria Helena Kühner, une poesia e teatro de forma exemplar, saindo da possível chatice de um monólogo ao estabelecer o diálogo entre os dois atores e a plateia.

A peça, apesar de sua difícil compreensão num primeiro olhar, consegue chegar com a inteligência típica de Ana C. perto de decifrar aquela mulher que foi um verdadeiro enigma até a hora do fim.

Serviço:
Um Navio no Espaço ou Ana Cristina César
Quando: sexta e sábado, às 21h; domingo, às 19h30
Onde: Sesc Santana (av. Luiz Dumont Villares, 579, Santana, São Paulo, SP);
Quanto: R$ 20
Informações: 0/xx/11 2971-8700; classificação 14 anos

* Publicado originalmente no R7.

sábado, 8 de maio de 2010

Leila Cordeiro

Recentemente, gostei muito de entrevistar a jornalista Leila Cordeiro para o portal R7. Na conversa, ela falou de seu desejo de voltar à TV. Quem é bem novinho e não se lembra dela nos principais telejornais de emissoras como Globo, Manchete e SBT, pode ler a entrevista para conhecê-la um pouco mais. Ou, melhor ainda, visitar o ótimo blog que ela faz direto de Miami, nos Estados Unidos, onde vive. Ah, e não esqueça de deixar seu comentário, né? Aquele abraço!


Leila, ao lado do marido, o também jornalista Eliakim Araújo

Abaixo, uma entrevista divertidíssima que a Leila Cordeiro fez com o Cazuza, ao vivo, no Rock in Rio, em 1985.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Coluna do Miguel Arcanjo nº 165

Quando o amor bate à porta

Por Miguel Arcanjo Prado*



Já terminei de ler Madame Bovary. Livro que li exclusivamente por amor. Ah, o amor... Coisa estranha de se explicar em palavras, talvez mesmo impossível. Toma a gente de assalto sem nem avisar, trazendo angústia e excitação numa mistura cheia de encanto e todas as consequências possíveis. Lembro de minha mãe, que sempre repete: o amor jamais acaba. E não é que ela está certa?

Amor é coisa difícil de se ter. Até porque ele não manda telegrama avisando antecipadamente sua chegada. Quando o amor bate à porta, ele vem de uma vez, surpreendente. Muitas vezes nem bate, arromba, bandido.

E a gente fica bobo, pensativo, temeroso, ansioso, corajoso, romântico, triste, desesperado, feliz, tonto, esperto, emotivo, efusivo e inconstante. Tudo isso num só dia. Em casos excepcionais em poucas horas, eu diria.

Quando se ama, sobretudo nos primeiros tempos do amor, a aflição volta a fazer parte do cotidiano e caminha de mãos dadas com o desejo incontrolável de conquistar o ser amado e, mais do que tudo, ser amado por ele. Afinal de contas, como na música que compus recentemente: felicidade só tem quem é amado também.

Aí a gente faz loucuras de todos os tipos: manda orquídeas brancas no trabalho, ouve todas as opiniões possíveis de amigos e familiares que fazem torcida, atravessa a metrópole embaixo de chuva torrencial... Enfim, topa qualquer negócio só para sentir novamente o coração bater forte, a boca ficar seca, as mãos geladas, e as palavras, de uma hora para a outra, não precisarem ser ditas. Ah!... Como é terrível amar.

*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e ainda acredita no amor.

domingo, 2 de maio de 2010

Redação conjunta

O R7 conquistou espaço próprio e não mais divide a redação com o Jornalismo da Record. Morro de saudade daqueles tempos, sobretudo de ficar pertinho de gente do mais alto gabarito. Abaixo, fotos tiradas na redação-estúdio da Barra Funda, em São Paulo, em janeiro de 2010 com a máquina emprestada por Guta Nascimento:


Eu ao lado de três jornalistas da pesada: a editora do Jornal da Record Guta Nascimento (à esq.), a editora de Cultura da Record Telé Cardim (de Rosa) e a colunista do R7 Fabíola Reipert


Eu fecho uma matéria em minha antiga mesa


Telé Cardim anuncia novidades do Sindicato dos Jornalistas


Eu ao lado do editor de Blogs do R7, Diego Maia, amigo desde os tempos de Curso Abril de Jornalismo


O beijo carinhoso de Juliana Damasceno, da equipe de Blogs


O beijo também carinhoso na editora do Fala Brasil, Carla Prado


Eu com a editora-chefe do R7, Ligia Braslauskas, e a editora de home Gabriela Quintela


Eu e o estagiário da equipe de Famosos e TV Pedro Henrique Feitosa


A repórter de Famosos e TV Vanessa Sulina


O estagiário de Famosos e TV Pedro Henrique Feitosa


Ana Paula Padrão e Celso Freitas conversam com Guta Nascimento após gravarem a escalada do Jornal da Record


O comentarista Percival de Souza aguarda o começo do SP Record


O editor de Ciência e Tecnologia do R7, Felipe Maia


Chefe de produção do Fala Brasil, Claudia Liz faz pose


Produtores do SP Record, Thiago Ermano e Sheila Fernandes não param


Compenetrado, o repórter do Fala Brasil Romeu Piccoli fecha mais um texto


Vista geral da redação: sempre em polvorosa