terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Um Papai Noel chamado Telé Cardim movimenta o jornalismo da Record

Quem disse que nas redações da Record e do R7 não tem Papai Noel?

Tem, sim, senhor!

E ele atende pelo nome de Telé Cardim, a musa maior dos festivais da Record e também de nossos corações.

Diz aí, Telé não é tudo?

Ah, as fotos são de Daia Oliver.



domingo, 6 de novembro de 2011

Coluna do Miguel Arcanjo nº 179



Na confusão da USP, todos estão errados

Por Miguel Arcanjo Prado*

Três estudantes fumam maconha no campus da USP. Policias da patrulha incorporam o Capitão Nascimento. Bora todo mundo para a delegacia. Está gerada a grande confusão.

A polêmica na Universidade de São Paulo que toma os noticiários não é tão simples quanto se pinta. De um lado, estudantes são manipulados por partidos que nem sabem o que querem. Do outro, a direita careta aproveita a situação para demonizar o pensamento político progressista.

Está tudo errado, é a única conclusão à qual posso chegar.

Tudo isso me faz lembrar uma manifestação da qual participei em meu primeiro ano de campus, na UFMG, a Universidade Federal de Minas Gerais, onde estudei Geografia e, depois, Comunicação Social.

Mal havia começado as aulas, e professores, alunos e funcionários, entraram em uma greve que durou todo um semestre. Todos contra o sucateamento do ensino universitário capitaneado pelo governo Fernando Henrique Cardoso. E estavam certos. Afinal, tinha aula de filosofia na mesma cadeira em que o escritor Guimarães Rosa havia se sentado. Era charmoso, mas estava mesmo tudo caindo aos pedaços.

Uma assembleia democrática decidiu que marcharíamos nas duas avenidas que circundam o campus Pampulha, de forma pacífica e com cartazes que diziam “Fora FHC e o FMI”. Aos 18 anos, e ainda começando a vida univesitária na Fafich, a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, decidi, com meu primo e colega de turma Guilherme de Araújo, seguir a passeata.

Qual não foi nossa surpresa quando, logo que viramos a esquina, vimos surgir um ônibus cheio de policias militares, que saíram jogando bombas de gás em todos nós. Logo, começaram a descer o pau na estudantada. Em pleno 2001. Em plena tarde de uma das principais avenidas de Belo Horizonte.

Sem resistência estudantil, policiais covardes escolhiam os mais fracos para ver o poder de seus cassetetes. Uma aluna de letras teve o braço quebrado.

Assustados, corremos de volta para o campus e fechamos o portão. A polícia, rangendo os dentes, ficou do lado de fora. Eles ainda não tinham a permissão de entrar ali. Quando as câmeras da Globo chegaram, os policias já haviam milagrosamente desaparecido.

Há um ódio histórico entre estudante e polícia. Afinal de contas, não é tão simples esquecer que, há pouco tempo, policiais invadiam salas de aulas e centros acadêmicos para levar alunos para a tortura nos porões da ditadura.

E policiais também não suportam os estudantes, que consideram filhinhos de papais privilegiados em poder estudar às custas do Estado, enquanto eles colocam suas vidas em risco para pegar bandidos em troco do salário medíocre que este mesmo Estado lhes paga.

E é dessa dicotomia que vem o confronto. O policial patrulheiro que passa as madrugadas na USP, no fundo, odeia o estudante que está por ali fumando maconha, para desanuviar a cabeça depois de uma tarde de estudos filosóficos. Por isso o prende, numa forma de demonstração de poder. E isso faz com que aquele estudante o odeie por usar o poder da Lei de uma forma tão bruta, injustificada e vingativa.

Estudante este que, por estar numa universidade pública – prova de sua reconhecida capacidade intelectual – se acha melhor que os demais. Favelados não fazem protestos pelo direito de fumar maconha. Ou, se fazem, ninguém escuta.

Mas penso que seria simples por demais embarcar no que faz a grande mídia e classificar os alunos que tomam o prédio da Reitoria da USP como “filhinhos de papai baderneiros”. E sair defendendo o cumprimento cego da Lei como uma Dona Carochinha viciada no Programa Silvio Santos e que reverbera o pensamento de extrema direita sem nem se dar conta. Mas não seria o correto, porque, afinal de contas, na confusão da USP, todos estão errados: universidade, policiais, estudantes e sociedade. Todos são por demais hipócritas e donos, cada um, de sua tão conveniente verdade.

*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e adora a inocência da letra da canção Povo Comum Pensar, do Olodum.

Foto de Rodrigo Paiva, do UOL

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Coluna do Miguel Arcanjo nº 178


Caro leitor, não poderia deixar de publicar neste espaço um dos melhores textos que li nos últimos tempos. Verdadeiro, profundo, simples e triste, como a vida o é muitas vezes. Espero que você goste.

Pacha

Por Juan Manuel Tellategui*


Hoje faz frio. Provavelmente seja um dos dias mais frios que vivi aqui. Talvez, seja assim mesmo, como em forma de metáfora.

Há dias, me lembrei dele. De forma passageira, como quem recorda a alguém que não vê faz um tempo e este surge representado em forma de um pensamento fugaz. Talvez, me avisou um anjo, ou talvez ele mesmo veio me visitar.

Como às vezes gosto de fazer, coloquei o computador em um programa da televisão argentina, no qual levam especialistas que relativizam todos os temas cotidianos, tornando-os frívolos e banais.

Este era o caso de quem tinha TOC, e a psicóloga falava, explicava e exemplificava os diferentes tipos de obsessão que existem. Eu escutava, de fundo, enquanto ordenava roupas e esperava não encontrar-me em nenhum daqueles casos.

Para minha curiosidade, alguns tipos de colecionadores também são obsessivos, e o exemplo foi o de uma pessoa que transforma sua casa em um depósito de coleções a ponto de ficar difícil viver dentro dela.

A casa de Pacha, pensei. E pensei também em um monte de perguntas para mim mesmo: Será que a casa dele foi acumulando cada vez mais livros, revistas, móveis de madeira encontrados na rua, entulhados até o teto? Eles eram reciclados pelo marido da Elcira, a senhora que fazia a faxina da casa. E os figurinos teatrais? Muitos, cada um permanecia como se encerrasse dentro dele uma história do passado. E as garrafinhas? Tantas garrafinhas de coca-cola... Insumo grátis – ele dizia – para uma cenografia original, que se utiliza como recurso para o passar do tempo na obra. Como estará? Tanto tempo...

E continuei com minhas coisas e com o relato do programa de TV.

Hoje, um dia como os outros, frio por demais, abro uma janela do Google para fazer uma busca relacionada a meu trabalho.

O azar, o destino, uma página leva a outra, uma sucessão de informação, e tudo acontece rapidamente. Um texto sobre Pina Bausch, ah, e tem uma foto do espetáculo inspirado no Japão que vi em São Paulo. Alternativa Teatral, claro, todos estamos em Alternativa Teatral. Página 12, que boa notícia, não sabia que havia escrito para Página. Tampouco me surpreendeu. Recordo que as manhãs dos domingos ele ia comprar o jornal para lê-lo tomando mate e, às vezes, com facturas.

Recordo os cálidos domingos de inverno, com o sol entrando na perpendicular por essa janela alta para espantar o frio. Até que cheguei a uma carta em um blog.

A última vez que nos vimos foi na Feira do Livro. Faz um, dois anos, talvez. Encontramo-nos na calçada da avenida Sarmiento, enquanto escutávamos Caetano acústico, sozinho com um violão. A noite era tranquila na multidão, fazia calorzinho, era uma noite de verão agradável. Enquanto colocávamos na agenda de nossos novos celulares os nossos novos números de telefone, ele me contava que estava muito feliz, porque havia conseguido um estande com “a revista” na feira. Não me atrevia a indagar demais, porque ele dava como certo que eu sabia tudo sobre “a revista” e poderia entender uma pergunta daquelas como uma falta de interesse minha sobre seus projetos nos últimos anos. A revista. Fiquei entusiasmado ao vê-lo tão entusiasmado, tão cheio de projetos, como sempre, tão projetado. Sempre ocupado.

Recordo que um dia ele me disse: “...que é a vida, senão, um sem fim de buscar um sentido”. Para dar-lhe um sentido, e quando começa a perdê-lo, buscar outra coisa, e outra, e assim até sempre... Sendo assim um incansável buscador de vida.

Retumba faz muito tempo essa frase dentro de mim. Eu me apropriei dela como se fosse minha, porque ele a me presenteou em um dia que eu estava triste. Quanta simples sabedoria. Quanto amor. Porque só quem teve calo de dor pode compreender a dor alheia e, ainda assim, distanciar-se para uma palavra, uma frase que valha a pena. Esse também, creio, era um de seus sentidos, a generosa hospitalidade compassiva.

Assim foi que nos conhecemos também.

Recordo as reuniões que tive o privilégio de participar, onde se falava de estética, semiótica, formas, arte, formas expressivas, usos do correto discurso castelhano. Tudo está comigo, esse foi seu maior presente. Naquele então, ele me chamava de “criatura”, e eu gostava que ele me chamasse assim também.

Como tudo acontece coma velocidade do dia a dia, pensei em ir visitá-lo e levar-lhe um uísque de presente, talvez um vinho, como agradecimento. Entretanto, essa ideia parecia-me demasiado formal... E esperando... Não sei, uma ideia melhor, deixava pendente para, mais adiante, dar um presente a Pacha.

Foi em 25 de maio. Que fiz em 25 de maio? Ah, sim, foi um dia qualquer, somente que não foi feriado e fazia calor. Lembrei-me da tradicional mazamorra que faz minha avó aos 25 de maio e pensei se neste ano ela faria também. Ninguém da família gosta de mazamorra, mas eu gosto e neste ano descobri que também se chama canjica.

Tudo continua como sempre, a vida das pessoas não se detém, não devem deter-se, porque é assim.

O tempo é tão curto.

Não sei se interessaria a ele que alguém o chorasse. Creio que, uma vez, fazendo piada, até disse que preferiria que se fizesse uma festa e que todos terminassem bêbados. Provavelmente, hoje eu faça um brinde em sua memória, em silêncio, à distância. Provavelmente, enquanto ele tenha um sentido, vai permanecer sempre conosco, a família da vida.

Obrigado, Pacha, por tudo o que foi para mim, “te quiero mucho”.

*Juan Manuel Tellategui é um ator argentino.

domingo, 5 de junho de 2011

Coluna do Miguel Arcanjo nº 177

Quem é Ancelmo Gois?

Por Miguel Arcanjo Prado*


Para o colega Fabian Chacur

Vira e mexe me assusto com os novos tempos. E olha que eu só tenho 29 anos e ainda não deveria estar desse jeito. Mas não dá.

Ao mesmo tempo em que muitos bradam por aí que estamos na era mais avançada da comunicação e que a humanidade evoluiu não sei quantas léguas, vejo, por outro lado, uma marcha em prol de tornar o mundo cada dia mais careta.

Parece que muita gente não ficou feliz diante dos passos largos que demos nas últimas décadas, sobretudo nos costumes. É por essas e outras que vemos surgir histórias absurdas como a que catapultou Geisy Arruda ao estrelato.

Por exemplo, na aprovação da união estável para casais gays pela Justiça houve de tudo. Até o retrógrado deputado, cujo nome eu me recuso a citar para não ajudá-lo depois nas urnas, que disse que a medida ajudaria a aumentar a pedofilia. Tadinho, será que ninguém avisou para ele que, geralmente, pedófilos são os pais, irmãos, tios e padrastos de famílias oficialmente dentro do “formato cristão” que ele defende? É cada asneira que se ouve – e se publica – impunemente por aí...

A Avenida Paulista, ultimamente, está vivendo, a cada semana, seu momento maio de 1968. Um dia é marcha para defender a maconha, noutro, mulheres saem com cartazes em prol do direito de serem vadias e, ao fim, como não cansa de reclamar minha amiga fotógrafa Julia Chequer, a imprensa apanha da PM qualquer que seja o tema da marcha. Dia desses é bem capaz de um grupo de senhorinhas quatrocentonas saírem por aí para defender Deus, a família e a liberdade, igualzinho aquela de mais de 40 anos atrás.

Porque o direito de não ter metrô perto de casa elas já defenderam. Afinal de contas, conviver com “gente diferenciada” é tarefa complicadíssima. Eu que o diga. Afinal, faço isso desde que nasci.

PS.
Fala que não dá vontade de chorar quando você escuta, em uma redação, a inconsequente pergunta de estagiário do terceiro ano de jornalismo, em plena era Google: “Quem é Ancelmo Gois?”.

*Miguel Arcanjo Prado é um dos jornalista que ainda gosta de ler jornal.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Coluna do Miguel Arcanjo nº 176

Adeus, Zé

Por Miguel Arcanjo Prado*




José Alencar se foi. Parece difícil de acreditar. Mesmo diante de sua doença – o que poderia fazer alguns pensarem que seu fim era algo iminente –, seu recado sempre foi de vida. De dignidade.

Zé, como era chamado pelos amigos e pelo povo de Minas Gerais, terra que amou como poucos e foi espécie de porta-bandeira, com seu jeito amigo, hospitaleiro e conciliador, demonstrava uma fé inabalável a cada entrada ou saída do hospital.

Em meus primeiros passos no jornalismo, ainda estudante da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e estagiário de uma grande redação em Belo Horizonte em 2005, fui surpreendido pelo recado de meu editor, Paulo Valladares. Seria uma espécie de setorista de José Alencar.

Na realidade, isso significava que era de minha responsabilidade cobrir, diariamente, a agenda do vice-presidente e, claro, as novidades de seu estado de saúde, já então delicado.

Passei a falar diariamente com seu fiel assessor, Adriano Silva, que me passava as últimas do Zé. Até que um dia ele apareceu na emissora para uma entrevista. Encontrei-me com ele no corredor e contei que cobria sua agenda. Daquele jeito simples, ele me agradeceu e, quebrando todos os protocolos de um vice-presidente, me deu um abraço afetuoso.

É esta imagem que vou guardar do meu conterrâneo José Alencar. Homem que soube, como poucos, mostrar que é possível fazer política com dignidade. Sua vida foi exemplo de vitória, com a surpreendente trajetória de menino pobre de Muriaé, na zona da mata mineira, a empresário milionário e vice-presidente da nação.

Sem preconceitos, uniu-se ao candidato ex-operário, dando a ele a confiança do mercado da qual tanto necessitava. Zé foi generoso, humilde e sempre respeitoso com o presidente Lula, sem perder suas opiniões e convicções. Quem não se lembra de sua batalha contra os juros altos? Mas suas considerações eram feitas de forma a nunca faltar com o respeito.

Zé conquistou o amor do povo brasileiro ao mostrar, diariamente, que era apenas mais um deles. Homem simples, guerreiro, batalhador. Coisa rara de se ver. É por isso que sua partida dói tanto.

*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e tinha um grande carinho por seu conterrâneo José Alencar.