sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Coluna do Miguel Arcanjo nº 153

Notas carnavalescas

Por Miguel Arcanjo Prado*

O Carnaval se foi, deixando cores, gostos, cheiros e sons ainda impregnados. Aventurei-me por duas festas. Primeiro a do Anhembi, no desfile das escolas paulistanas, na sexta e sábado. Depois, me piquei para Salvador da Bahia, mundo dos blocos e afoxés, onde fiquei até a triste Quarta-Feira de Cinzas --não para os baianos, é claro. Então, vamos às notas carnavalescas.



Rainhas
No sambódromo do Anhembi, preocupação dos fotógrafos a postos tem nome: a rainha da bateria. Nada mais importa: alas, baianas, carros. As rainhas e seus corpos fenomenais são fundamentais. Meu amigo João Batista Jr., repórter da Vejinha, definiu bem o porquê disso: o Carnaval consegue deixar essas moças ainda mais bonitas e exuberantes. E, ao vê-las de perto, constatei o óbvio: não é que é mesmo?



Ovos
Ao chegar no Anhembi, Adriana Bombom logo exibiu seu corpo de cair o queixo. E deu a explicação de sempre: "Comi 70 ovos em dois dias". Haja estômago.

Bunda não pode
A irmã e assessora de Sabrina Sato sofreu na concentração para proteger o bumbum da apresentadora do "Pânico". É que os rapazes da Gaviões usavam os celulares para tirar foto da comissão de trás da moça. Pode?

Sonho de Carla
No camarote Contigo Daniela Mercury, no circuito Barra-Ondina, em Salvador, Carla Perez era só simpatia. Ria à beça e tirava fotos com quem fosse. A moça cobriu a festa baiana para a Rede TV! e até se saiu bem, ao contrário da apresentadora da emissora Daniela Albuquerque --mulher do dono-- que mostrou ser a pior apresentadora do Brasil. Carla me contou que quer montar uma peça infantil. Viu "O Poeta e as Andorinhas", produzida por Cintia Abravanel --a filha nº 1 de Silvio Santos-- e falou: "Quero fazer uma igual". Para quem já está com a língua a postos para falar mal dela, Carlinha avisa. "Sou atriz formada". E é mesmo. Ela fez a Oficina de Atores Nilton Travesso.



Aposentadoria
Já Gilberto Gil me disse, na entrada do camarote Expresso 2222, capitaneado por sua mulher, Flora, e por sua filha Preta, que não quer saber mais de trio elétrico. "Já estou velho", falou. Respondi de pronto. "Tá velho nada, Gil". Ele: "Tô, sim. Não aguento mais, prefiro ficar mais calminho". Este ano Gil desfilou no bloco de afoxé Filhos de Gandhy, que completou 60 anos. Ele ainda estava vestido com a vestimenta azul e branca, quando conversamos, no começo da noite de domingo de Carnaval. “É muito bom curtir assim, mais relaxado, mais tranquilo. Comecei a fazer trio velho, com 55 anos, por ideia da minha mulher, a Flora. Fiz dez anos, mas quis parar neste ano, porque já estou velho para trio. Você já viu como é? É uma coisa doida, você fica cantando oito horas lá em cima”, disse o cantor, abrindo o sorrisão. Morador do Rio, Gil fez questão ainda de declarar o amor à Bahia. “No Caranaval, é hora de voltar à casa, ao dendê, ao pôr-do-sol no Porto da Bara”, disse, antes de beijar Flora na boca

Semideus
Com o abadá azul e branco dos Filhos de Gandhy, o ator Alexandre Barilari andava todo prosa por Salvador. “Estou me sentindo um semideus”. Modesto, não?

Revolta
Dilma Roussef, a ministra-candidata, não foi a Salvador no Carnaval e comprou a mágoa do prefeito, João Henrique (PMDB), e no governador da Bahia, Jaques Wagner (PT). Ao trombar com João Henrique no domingo, ele me confidenciou estar ainda esperançoso da visita. “Ela foi ao Recife, queríamos ela aqui também”, disse. Ele já até planejava pedir ajuda da candidata de Lula para a conclusão das obras do metrô soteropolitano. "Só faltam 3% da verba", afirmou.

Matriarca
A promoter Licia Fábio, dona de meia Bahia e responsável pelo camarote Contigo Daniela Mercury, foi uma das figuras mais reverenciadas no Carnaval. Cada trio que passou pelo espaço parou para seu cantor pedir sua bênção. Sentada em um sofá branco, posicionado debaixo de um ventilador, Licia tinha aos pés o publicitário Nizan Guanaes --responsável pela conta do Carnaval de Salvador--, a quem fazia cafuné na cabeça.



Atrevida
Vestida de deusa africana --ou a tal guerreira do axé, como se definiu--, Ivete Sangalo berrou, do alto do trio, no Campo Grande, ao ver o prefeito de Salvador, João Henrique (PMDB), na terça de Carnaval: “Eu gosto de você todo suado”. O político ficou sem graça. Ela não se deu por satisfeita e não poupou a primeira dama soteropolitana, Maria Luiza Barradas. “Jogou luzes no cabelo, foi? É por isso que o prefeito está de laranja, para combinar”, finalizou, animadíssima.



Cadê?
Na segunda de Carnaval, Daniela Mercury --chamada por Ivete e Claudia Leitte de eterna rainha da festa baiana-- homenageou a tropicália, em seu trio apinhado de bailarinos e com participação de Paula Lima --um tanto quanto apagadinha. Em frente ao camarote Expresso 2222, ela chamou por Gilberto Gil e Caetano Veloso. Ao ver que nenhum deles aparecia na sacada, se decepcionou. “Eu liguei o dia inteiro para eles falando que faria essa homenagem”, disparou, revoltada, antes de tocar “Tropicália”, o hino-manifesto composto por Caetano. Quando a música já havia terminado, eis que Gilberto Gil surge na sacada e, humilde que só, pede desculpas pela ausência no momento fatídico. Daniela implora para que a prefeitura a deixe ficar com o trio parado por mais um tempo --os trios precisam seguir um cronograma de desfile, senão são multados--, para poder fazer dueto com o ex-ministro. Atendida, cantou com ele “Vamos Fugir”. Gil se empolgou e emendou “Madalena”. Daniela deu-se por satisfeita e deixou o trio seguir em frente.



Grito do trio
Claudia Leitte foi a responsável pelo momento feliz no Carnaval baiano. Estava eu lá na varanda do Expresso 2222, o camarote do Gil, quando ela passou com seu trio conduzindo o Bloco da Barra. Ao me ver no meio do povo, gritou: "Miguel, meu Arcanjo lindo! Te amo, viu?". Na hora, fiquei lisongeado e o coração bateu mais forte. E olha que não sou dado a esse tipo de emoção. Mas quem já ouviu algo assim de uma cantora no alto de um trio vai entender que não sou piegas. Claro que respondi de pronto: "Eu também, Claudinha".


*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e precisa dormir urgentemente.


Fotos: Iwi Onodoera, Alessandra Gerzoschkowitz, Eduardo Freire e Sandra Lopes/Ego/Globo.com

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Coluna do Miguel Arcanjo nº 152


O Carnaval já vem chegando

Por Miguel Arcanjo Prado*

Da janela do apartamento no alto do 19º andar da avenida São João escuto o som de festa que vem do largo do Arouche, no centro de São Paulo. Uma semana antes, as pessoas já se jogam na folia sem culpa alguma e me fazem sentir saudades dos blocos nas ruas da zona sul do Rio. Festa mais tradicional de nosso povo, o Carnaval traz consigo sensações de liberdade e de felicidade únicas.

Mês passado, acompanhei o ensaio técnico da Mangueira, minha escola do coração, na Marquês de Sapucaí, no Rio. Arquibancadas lotadas e cervejas em punho, os mangueirenses estampavam na avenida um gozo coletivo ao entoar o samba-enredo com todo fôlego possível. Passistas, ritmistas e baianas fizaram um ensaio impecável, já cheio daquela emoção de descer o morro para brilhar na avenida.

Em São Paulo, os preparativos também seguem de vento em popa. Ensaios nas quadras são cada vez mais disputados, cheios daquela gente de sambar desengonçado mas, nem por isso, menos feliz.

Mas tudo termina na Bahia, que monopolizou nos últimos anos a festa profana. Em Salvador, Carnaval é levado a sério, como em poucos lugares do mundo. Lá se pula que nem pipoca por todos os dias possíveis de fevereiro (e - por que não? - do ano), mas também se pensa na festa como o espaço de ganhar dinheiro e promover até a exaustão completa a música que faz a vida de tantos baianos e a alegria de gente endinheirada do Sudeste e até de outras partes do mundo.

Apesar do viés econômico, o bom mesmo no Carnaval é, como diz a letra da música cantada pela nova musa Claudia Leitte, beijar na boca e ser feliz daqui para frente. Afinal, o ano só começa depois da Quarta-Feira de Cinzas.


*Miguel Arcanjo Prado é jornalista, frequentou ensaio de blocos e de escolas de samba no Rio, mas vai cobrir os desfiles das escolas de São Paulo e dos trios elétricos em Salvador.