Você Já Foi à Bahia?
Por Miguel Arcanjo Prado*
Dorival Caymmi era a síntese de nossa música popular. Um ser único, tão próximo de cada brasileiro, sobretudo os mais propensos a amar a Bahia, terra cantada por ele, mãe do Brasil. Ele era aquele que existia e, só pelo fato de existir, já nos deixava felizes. Dava gosto tê-lo entre nós.
Fui acordado pela morte de Caymmi, na manhã do último sábado (16). De folga, curtia fossa debaixo dos cobertores, quando a editora liga, pedindo ajuda: Caymmi havia morrido e havia muito trabalho pela frente. Levantei, escovei os dentes e fui para a Redação do jeito que estava. Cara amassada e agenda em punho. Falar de Caymmi era preciso.
Mesmo no caso dos devotos da obra do mestre, só aqueles que já foram à Bahia conseguem entendê-la completamente em toda a sua riqueza de significados e matizes. Tal qual o leitor de Jorge Amado só entenderá aquela gente descrita nos livros que rodaram mundo se ver aqueles personagens vivos, nas ladeiras da Cidade da Bahia, ou Roma Negra ou apenas Salvador para os leigos.
É no descer e subir cheio de requebros entre os casarões históricos da Saúde ou do Pelourinho, no movimento dos saveiros na rampa do cais, na chegada dos pescadores em Rio Vermelho, no pular do quebra-mar do Porto da Barra, no avistar do mar da Igreja de Mont Serrat, no amarrar a fitinha defronte à Igreja de Nosso Senhor do Bonfim e na confusão da gente negra da Liberdade é que se entende tudo que Caymmi quis dizer. Que se entende por que ele continuou tão baiano mesmo vivendo maior parte de sua vinda longe da terra natal. É que se entende por que somos assim. Você já foi à Bahia? Não? Então vá!
*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e tem alma baiana.
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
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