sábado, 11 de abril de 2009

Coluna do Miguel Arcanjo nº 155

Nota de luto



Coisas de férias: descubro agora, numa lan house da rodoviária de Salvador, por um aviso via internet da repórter da Folha Online Gabriela Quintela, minha amiga querida, que o ator paulista Francarlos Reis morreu na última quarta, 8, de infarto fulminante, em seu apartamento, que fica a um quarteirão do meu, em São Paulo. Dói profundamente receber esta notícia.

Francarlos sempre foi um exemplo para mim de caráter, de profissionalismo e, antes de tudo, de talento. O conheci na época de "My Fair Lady", quando ele fazia magistralmente --e roubava a cena-- o pai da protagonista, interpretada por minha amiga Amanda Acosta.

Lembro-me de certa noite, Amanda, Francarlos e André Fusko, o marido de Amandinha, estarmos todos sentados numa mesa movimentada do restaurante Luna di Capri, após uma sessão de teatro, jogando conversa fora. Ele era o centro das atenções na mesa, tamanho o carisma. Dava aula e falava mal dos jovens atores da televisão e de sua mediocridade intelectual e de talento --não de todos, evidentemente, mas dos saradões e gostosinhas sem nada na cabeça. E me cobrou uma matéria que havia feito sobre "My Fair Lady" na revista Contigo!. "Você não me mandou pelo Correio. Quer anotar de novo o endereço?", falou, para concluir, com deboche: "Vocês jornalistas nunca mandam!"

Foi Gabriela Quintela quem, provavelmente, fez uma das últimas entrevistas de Francarlos. Quatro dias antes, ele estava do mesmo jeito enérgico e vivo durante nossa conversa nos bastidores do primeiro ensaio-geral de "A Noviça Rebelde" em São Paulo, que cobri para o Agora. Estava todo satisfeito em voltar aos musicais.

A imagem dele que vai ficar para mim, além da presença arrebatadora nos palcos, é a que tinha às manhãs ao sair do meu prédio: vê-lo na esquina das avenidas São João e Duque de Caxias, com sacolas em punho, voltando do supermercado ou da padaria, a caminho de seu apartamento, na alameda Barão de Campinas.

Às vezes, ao sair da Folha para almoçar com a Gabi, víamos ele na portaria do prédio, tomando ar na calçada. O cumprimentávamos, e ele sorria, dava notícias dos ensaios e das futuras peças. É triste vê-lo partir. Dói fundo. O teatro brasileiro se cala mais pobre. E bem mais pobre fica quem não viu Francarlos Reis no palco ou na vida.

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Miguelito

Eu não o conheci, nem no palco e muito menos na vida, mas devia ser uma pessoa muito especial, para você falar sobre ele com tanto carinho e admiração.
Lamento pelo que essa perda significa para você...
Beijos,
Dilu

Anônimo disse...

Miguel,
chorei com a sua coluna.
Um beijo de quem sempre irá te amar,
Bruno