segunda-feira, 13 de abril de 2009

Capitães da Areia



Cecília Amado, neta de Jorge Amado, roda em Salvador o longa "Capitães da Areia", inspirado no livro homônimo do avô. A obra é obrigatória na pré-adolescência de qualquer brasileiro que tenha tido uma mínima educação. Torço para que o filme seja bom e um sucesso. A história é boa. Cheguei a ver uma das filmagens no quebra-mar do Porto da Barra, minha praia preferida na Bahia. Que venham então Pedro Bala, Gato e seus amigos!

Ps. Para saber mais sobre o filme, clique aqui.

Me despache!



Domingo de sol em Madre de Deus (foto), pacata cidade de mar verde-azul ao fundo da baía de Todos os Santos, a uma hora de Salvador. Entro na lanchonete da cidade onde mora minha prima Graziele, em frente ao Estádio Municipal --local da vitória do time local em cima do Bahia na semana passada.

Como bolinho de carne com suco de graviola. Eis que, de repente, entra no estabelecimento uma menininha negra, de uns sete anos. Ela vem com uma moedinha de dez centavos na mão. Em alto e bom som, grita: "Me despache!"

Fico encabulado com a nova expressão. Logo, vem a dona da lanchonete e pergunta o que a garota quer. Ela pega dois chicletes. Pergunto à pequenina: "Menina, o que significa 'me despache'?" Ela me ignora, revoltada com meu atrevimento e ignorância.

Logo, meu primo Danilo Barbosa Ribeiro me acude. "Quer dizer me atenda, ora". "Mas isso não soa mal educado?", retruco. Ele finaliza: "Não, na Bahia se fala assim".

PS. Ah, por aqui, eles também não bebem bebidas alcóolicas. Eles comem água. Agora, não me pergunte por quê. Coisas da Bahia, terra de verdadeiros e grandes comedores de água.

sábado, 11 de abril de 2009

Coluna do Miguel Arcanjo nº 155

Nota de luto



Coisas de férias: descubro agora, numa lan house da rodoviária de Salvador, por um aviso via internet da repórter da Folha Online Gabriela Quintela, minha amiga querida, que o ator paulista Francarlos Reis morreu na última quarta, 8, de infarto fulminante, em seu apartamento, que fica a um quarteirão do meu, em São Paulo. Dói profundamente receber esta notícia.

Francarlos sempre foi um exemplo para mim de caráter, de profissionalismo e, antes de tudo, de talento. O conheci na época de "My Fair Lady", quando ele fazia magistralmente --e roubava a cena-- o pai da protagonista, interpretada por minha amiga Amanda Acosta.

Lembro-me de certa noite, Amanda, Francarlos e André Fusko, o marido de Amandinha, estarmos todos sentados numa mesa movimentada do restaurante Luna di Capri, após uma sessão de teatro, jogando conversa fora. Ele era o centro das atenções na mesa, tamanho o carisma. Dava aula e falava mal dos jovens atores da televisão e de sua mediocridade intelectual e de talento --não de todos, evidentemente, mas dos saradões e gostosinhas sem nada na cabeça. E me cobrou uma matéria que havia feito sobre "My Fair Lady" na revista Contigo!. "Você não me mandou pelo Correio. Quer anotar de novo o endereço?", falou, para concluir, com deboche: "Vocês jornalistas nunca mandam!"

Foi Gabriela Quintela quem, provavelmente, fez uma das últimas entrevistas de Francarlos. Quatro dias antes, ele estava do mesmo jeito enérgico e vivo durante nossa conversa nos bastidores do primeiro ensaio-geral de "A Noviça Rebelde" em São Paulo, que cobri para o Agora. Estava todo satisfeito em voltar aos musicais.

A imagem dele que vai ficar para mim, além da presença arrebatadora nos palcos, é a que tinha às manhãs ao sair do meu prédio: vê-lo na esquina das avenidas São João e Duque de Caxias, com sacolas em punho, voltando do supermercado ou da padaria, a caminho de seu apartamento, na alameda Barão de Campinas.

Às vezes, ao sair da Folha para almoçar com a Gabi, víamos ele na portaria do prédio, tomando ar na calçada. O cumprimentávamos, e ele sorria, dava notícias dos ensaios e das futuras peças. É triste vê-lo partir. Dói fundo. O teatro brasileiro se cala mais pobre. E bem mais pobre fica quem não viu Francarlos Reis no palco ou na vida.