segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Crítica: In On It - Quando ir ao teatro vale a pena



Por Miguel Arcanjo Prado

Ver uma peça de teatro muitas vezes é um martírio para quem sai de casa em busca de alguma diversão. Seja por textos medonhos, atores medíocres ou direção estapafúrdia, muitas são as vezes em que o público volta para casa com a sensação de que desperdiçou seu rico dinheirinho com um ingresso. Este não é o caso da peça In On It, em cartaz no teatro Faap, em Higienópolis.

Nem o desconforto da sala num dos bairros mais chiques da capital paulista, com cadeiras amontoadas em espaço mínimo, daquelas que prendem as pernas do espectador, consegue ser capaz de tirar o brilho da montagem que nada mais é do que um exercício cênico perfeito.

De nome confuso para o brasileiro médio (o título, em inglês, significa algo como "dentro"), a peça tem direção caprichada e sem nenhum excesso assinada por Enrique Diaz. Muito pelo contrário, ele apenas colocou os atores Fernando Eiras e Emilio de Mello em um palco, munidos de duas cadeiras e luz sem arroubo algum. E dá certo.

O texto do canadense Daniel MacIvor, cheio de metalinguagens, surge forte durante os dez personagens interpretados pela dupla de talento incomensurável. Por uma hora de espetáculo o público é presenteado com um maravilhoso jogo cênico no qual o que realmente importa não são malabarismos teatrais, mas, sim, um grandiloquente trabalho de ator. No caso, o trabalho de uma dupla tarimbada de atores. Imperdível!

Onde: Teatro Faap (r. Alagoas, 903, Higienópolis, 0/xx/11 3662-7233. Quando: 6ª, 21h30; sáb., 21h; e dom., 18h. 60 min. 16 anos. Quanto: R$ 40 (sáb., R$ 50). Até 28/3.

Para conferir o blog da peça, clique aqui.

2 comentários:

Rodolfo Lima disse...

Vai ser dificil ver outra peça deste gabarito em 2010. Aposto: é a peça do ano.

cgsmoura disse...

Confesso que fui a In On It cheio de preconceitos. Não gosto de peças com muita exposição na mídia, não gosto do teatro da FAAP (em geral, casa de “teatrão”). E detestei o prospecto: superficial, egocentrado, narrando peripécias do histórico da produção e da relação dos atores-diretor, com os clichês tietosos de praxe sobre o autor, sobre o texto etc. Virtude da peça (me recuso a chamar de espetáculo, e agora me apóio no texto desta mesma peça), que me fez sair de lá com a convicção de ter visto um bom teatro. O contraponto das 3 narrativas é muito bem organizado, ajudado por uma boa direção que traça as fronteiras com precisão (se não traçasse, talvez eu desse mais estrelas). O texto é sutil e emocionante. Há personagens de breve passagem, que ainda assim têm personalidade. Os atores se revezam entre os personagens e entre os planos com grande competência. Como pontos negativos, os temas tratados ficam no limite da narrativa casual, não se aprofundam e não propõem uma consideração filosófica mais profunda. E poderiam. E o autor (ou o diretor, isto eu não sei porque não li o texto original) parece perder um pouco o ponto ideal de parada. O escuro pós acidente, que leva a platéia aos aplausos, seria o ponto ideal da missão tranformadora da arte (vox populi ...).