domingo, 25 de julho de 2010

Coluna do Miguel Arcanjo nº 169


Eve

Por Miguel Arcanjo Prado*


Esta é primeira coluna feita por encomenda de um leitor. No caso, uma leitora. E que leitora. Outro dia, encontrei-me com ela, Silvana Garzaro, a maior fotógrafa de celebridades deste país, na estação de ônibus Amaral Gurgel, em Santa Cecília, no centro de São Paulo. Conversa vai, conversa vem, lembrei-me de contar a ela que, até que enfim, havia assistido ao filme A Malvada, ou All About Eve, no título original em inglês.

Peguei o DVD emprestado com a amiga jornalista Gabriela Quintela, que não é boba nada e tem a preciosidade em sua coleção. Satisfeita com a notícia, afinal de contas desde os tempos em que formávamos a mais divertida dupla de reportagem da revista Contigo! Silvana vivia insistindo para que visse o filme, ela sugeriu: “Por que você não escreve sobre A Malvada em sua coluna?”. Pedido de Silvana é ordem.

Para quem não viu – o que é inadmissível; portanto, corra urgentemente para resolver esse grave problema –, uma breve sinopse: o longa de 1950 dirigido por Joseph L. Mankiewicz conta a história de Margo (Bette Davis), atriz consagrada que vê sua vida ser transformada com a chegada da doce Eve (Anne Baxter), uma jovem aspirante a atriz.

Como um oráculo, o filme é uma verdadeira bíblia das relações humanas, sobretudo no campo profissional regado a muito glamour e pavonices, como o é o do jornalismo, o da fotografia e o das artes. Só depois de ver o filme é que você, meu caro leitor, entenderá o porquê de, sempre que vê nas pautas da vida jovenzinhos mal saído das fraldas e todos cheios de si e, principalmente, deslumbrados com o grand monde, Silvana dispara com a certeza de um pajé: “Eve!”

E as Eve são muitas. Vivem espalhadas por todos os cantos, mantendo seus jeitinhos dóceis e subservientes até estarem certas de que seu bote será infalível e que vão conquistar aquilo que tanto almejam. Elas são ótimas em interpretação. Dão banho em qualquer Fernanda Montenegro por aí. Se bem que algumas deixam, em algum momento, escapar uma certa dose de canastrice, até porque representar oito, 12 horas por dia não é lá coisa muito fácil. É aí que a atenção é fundamental. Esses pequenos momentos são reveladores.

É claro que também o sexto sentido ajuda. Mas esse é impossível ensinar, já que Deus o concede apenas a alguns. Graças a Deus, fui agraciado; assim como meu primo Caio Silva, sempre por perto. É esse dom que permite, com um só olhar de raio X, descortinar por trás da alma pretensamente dócil a víbora que se esconde. Porque, meu caro leitor, energia é impossível de se conter.

Para quem não tem lá esse trânsito para as coisas que não se veem, mas se sentem, fica uma preciosa dica. Quando se aproximar de você uma pessoa muito boazinha, solícita e elogiosa, sobretudo se tiver em posição inferior e você perceber nela uma dosinha que seja de ambição, pode saber: é Eve! Simples assim. Por mais que ela se esgueire em sorrisos e salamaleques, esteja certo de que, mais dia menos dia, o bote virá. E você, com toda a certeza, nesse momento poderá decretar, tal qual Silvana Garzaro: “Eve!”

*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e pretende ver novamente o filme A Malvada.

3 comentários:

Anônimo disse...
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schimith disse...

vale acrescentar que para toda Eve, tem uma Margo e, ainda, que cada Margo tem a Eve que merece!

cris disse...

Não conhecia o filme, Miguel, vou tentar me redimir e vê-lo tão logo seja possível! Trabalhando no domingão! Acho que fui a primeira a te ler ;)
Cris