segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Coluna do Miguel Arcanjo nº 172



A simplicidade da felicidade

Por Miguel Arcanjo Prado*

A felicidade é simples como a pluma que o vento leva solta pelo ar, já dizia o poetinha que todos nós amamos, Vinicius de Moraes. Hoje, por exemplo, ela se fez diante dos meus olhos no menino que foi trabalhar com seu pai, motorista de ônibus na linha que liga Buenos Aires a Quilmes, município nos arredores, nesta segunda-feira de feriado argentino.

Feliz, a criança admirava seu progenitor com um olhar expressivo que tudo já dizia. Pequenino, abraçava as pernas de seu pai, concentrado em conduzir o veículo sem perder, contudo, a ternura daquele gesto, homem de tantas responsabilidades e dono de uma profissão que enchia de encanto os olhos daquele menino.

Seu pai era o responsável por conduzir toda aquela gente, cansada e espremida, para seus – poucos e, por isso, tão importantes – minutos de felicidade e paz no restante daquele dia regido pelo sol majestoso que se exibia lá fora pela janela.

A simples saída de Buenos Aires para a pacata Quilmes explicita o que é tão necessário e que, muitas vezes, deixamos de lado: o parar simplesmente para refletir a quanto anda nossa cota de felicidade. Muitas vezes, em nome de muita coisa que vamos esquecer logo depois, deixamos de lado a busca pelo sorriso farto e o bem estar.

Ser feliz é apenas estar em paz. De bem consigo mesmo e com o que há ao seu redor. Se não é possível mudar esse mundo que muitas vezes se pinta cheio de gente feia, careta, direitista e idiota, talvez basta que ignoremos essa turma que não vale a pena e abramos nossos olhos para aquelas pessoas que nos transmitem coisas boas – pode parecer mentira, mas elas existem, sim. Está bem, sei que não são muitas, mas as poucas que restam muitas vezes cruzam nossos caminhos.

E, para ser certeiro nesses momentos preciosos, é preciso estar atento e forte, como na canção do Caetano, sem tempo para temer a morte. É preciso criar o tempo para a vida – de fato, a que vale a pena. Para curtir a simplicidade que a traduz. Porque no final, é o simples que vai ficar. Coisas como um almoço de feriado feito com carinho, o silêncio de uma leitura de jornal compartida, a escolha da boa música que encherá o ambiente de alegria, aquele olhar cheio de silêncio e de significado junto às mãos entrelaçadas sob o sol que atesta que, sim, é possível ser feliz.

*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e é um homem feliz.

3 comentários:

Anônimo disse...

Tão bonito, tão humano. Lembrei tanto da minha infância. Também tive dias assim, a exemplo do garoto, com um tio que me levava. beijos, Josie

Ana Beatriz Camargo disse...

Putz! Que lindo! Muito sábio esse Arcanjo. Muito. Já foi retuitado. Beijos.

Anônimo disse...

Miguel..emocionante o texto.
Grande abraço, Teu primo; Pedro.