sábado, 27 de fevereiro de 2010

Thomas Mann ou Tieta?


Apesar da insistência de meu primo Marcelo Junio Gonçalves, conhecedor das profundezas da língua alemã, para que eu leia Thomas Mann, não resisti em começar a leitura de algo bem mais brasileiro, sobretudo após passar o Carnaval em Salvador: Tieta do Agreste, do grande Jorge Amado. Prometo a Marcelo que, assim que Tieta acabar, Morte em Veneza terá sua vez. E, para relembrar um pouquinho, não custa nada ver um pedacinho da adaptação do romance para a TV, feita magistralmente pelo trio Aguinaldo Silva, Ana Maria Mortetzsohn e Ricardo Linhares, novela que marcou minha infância e figura entre as melhores que vi na vida:

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Carnaval de Salvador resume o Brasil



Por Miguel Arcanjo Prado, enviado do R7 a Salvador

Seja na beleza do tapete branco formado pelos integrantes do tradicional bloco afro Filhos de Gandhy, nos movimentos suntuosos da Deusa do Ébano do Ilê Ayê ou na sensualidade dos cantores, que vão de Claudia Leitte e Ivete Sangalo a Léo do Parangolé, o Carnaval da Bahia mostrou mais uma vez a sua força nos últimos seis dias.

E ela vem, sobretudo, da população baiana, que se enfeitou e se animou para brincar na maior festa popular do mundo e receber com carinho os 500 mil turistas que chegaram à cidade.

Mas o Carnaval não é só alegria. É também palco de problemas persistentes como a violência entre foliões e os furtos que atormentam tantos outros. Nos últimos seis dias de festa, a reportagem do R7 presenciou roubos, assaltos e agressões nos circuitos.

Mas nem o mais truculento folião conseguiu tirar a beleza da festa, que se traduziu na música diante da qual é impossível ser indiferente.

Terra de gênios como João Gilberto, Caetano Veloso e Gilberto Gil, a Bahia ainda canta o Brasil. O pagode provocante do Rebolation, do Parangolé, a batida eletrônica de As Máscaras, de Claudia Leitte, o suingue de Na Base do Beijo, de Ivete Sangalo, o bom humor do Vale Night, do Asa de Águia, a inteligência de Andarilho Encantado, de Daniela Mercury, ou o sincretismo de Saudação ao Caboclo, de Margareth Menezes, traduzem a diversidade cultural do povo brasileiro.



A festa não conquistou só estrangeiros, mas também os próprios baianos. Prova disso foi ver o brilho nos olhos das pessoas na arquibancada do Campo Grande diante dos beijos jogados por Claudia Leitte do alto de seu moderno trio. A cantora, ao pegar um colar jogado por um integrante dos Filhos de Ganhdy, resumiu a mistura do axé.

A folia foi de estreia para a estudante Naiara Garcia, de 22 anos, que nunca havia visto o Carnaval de sua terra de perto.

- Só tinha visto pela televisão. Pessoalmente, é muito mais impactante e bem mais divertido. Fiquei impressionada com Ivete levantando o povo.

Outro que se empolgou na festa foi o empresário soteropolitano Augusto Guimarães, de 25 anos.

- A festa da Barra é mais fresca do que no Campo Grande, por conta da praia. O que me arrepia sempre é a passagem do Chiclete [com Banana]. Eles têm um astral único, que me faz arrepiar todos os anos.

O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite da Ciel Empreendimentos Artísticos.

Abaixo, 2 vídeos de Claudinha Leitte agitando o Campo Grande. Quem for esperto, vai me achar no alto do carro. Beijos!



domingo, 7 de fevereiro de 2010

Crítica: Por que Ivete foi melhor do que Beyoncé




Por Miguel Arcanjo Prado

Após passar pelo martírio da chuva aterrorizante do fim de cada tarde da cidade, o público paulistano esperava pela dupla Ivete Sangalo e Beyoncé Knowles. A última, norte-americana, era a estrela da noite, ficando para a musa de Salvador a tarefa de abrir o show.

De roupas e pés encharcados e em uma pista de estádio inundada, o que mostra a falta ainda gritante de locais apropriados para grandes shows na maior metrópole do Brasil, o povo aguardava ansioso.

Ivete foi mais do que pontual. Entrou no palco do estádio do Morumbi dez minutos antes das 20h, horário previsto para ela começar. E não se fez de rogada. Em três segundos, já tinha o público de 60 mil pessoas sob suas mãos, hipnotizados por seu já conhecido excesso de carisma.

Além de sacudir a massa com seu repertório na boca do povo – que foi aberto por Na Base do Beijo, sua canção de Carnaval já cantada de forma uníssona –, Ivete falou até não poder mais.

Contou que havia se tornado amiga de infância de Beyoncé e que era capaz de lembrar das duas crianças em Juazeiro, sua cidade natal na Bahia, esmiuçou sua aventura para chegar ao estádio, que teve parte do trajeto no helicóptero e parte no carro, por conta do temporal.

Ao anunciar que iria embora, antes de cantar País Tropical, Ivete foi ovacionada. Ao sair, o povo gritava órfão por seu nome.

Beyoncé só entrou às 22h20 para fazer seu show de duas horas. Atrasada, pegou um público já fatigado por Ivete e pela chuva. Mesmo assim provocou reação à altura de seu atual status de maior diva da música pop.

Com passos que parecem ter sido coreografados por uma experiente travesti, ela mostrou todo o excesso de poder da fêmea que caracteriza seu estilo. Tal postura provoca uma catarse em seu público composto por uma reinante maioria de jovens gays, que parecem se projetar naquela Barbie Negra, como definiu muito bem minha amiga Gabriela Quintela, que viu o show a meu lado. Tudo o que aqueles meninos queriam era ter aquele corpo, aquela peruca e aquele atrevimento que Beyoncé demonstra diante de seus homens de barriga tanquinho.

Beyoncé fez um show correto e excessivamente coreografado. Há quase nenhum espaço para improviso ou criatividade. Tudo é milimetricamente calculado e dirigido para produzir o resultado esperado: fazer dela uma diva. E ela canta como ninguém, apesar de inserir o playback em alguns momentos do show.

Mas como Ivete fez questão de dizer, logo após tomar um tombo no palco e se comparar a Madonna e Beyoncé, que também já tiveram quedas espetaculares, o Brasil tem sua diva também. E esta não fica a dever em nada para a garotinha negra do Texas.

Na volta do estádio, num ônibus rumo ao centro, escutei uma passageira comentar sem nenhuma vergonha: “A Beyoncé arrasou, mas eu gostei muito mais do show da Ivete”. Verdade dita.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Crítica: Maternidades - Uma atriz que vale por quatro



Por Miguel Arcanjo Prado

Amanda Acosta já mostrou que era atriz do primeiro time de sua geração quando protagonizou com esmero o musical "My Fair Lady", em 2007. Como a jovem Elisa Doolitle, deixou a plateia completamente apaixonada por ela. Mas não se prendeu ao passado e conseguiu ir muito mais além.

Em Maternidades, texto escrito sob medida por seu marido, o ator, médico e dramaturgo André Fusko, ela surge desprovida das pirotecnias cenográficas e coreográficas dos musicais e sem poder exercitar seu belo canto. Mas não faz diferença alguma. Muito pelo contrário. Ela demonstra talento ainda maior nesta montagem focada em seu trabalho de atriz.

No diminuto palco do Espaço dos Satyros Um, na praça Roosevelt, reduto do teatro alternativo paulistano, Amanda se agiganta na pele de quatro diferentes mulheres que falam da aventura da maternidade, apesar do tema ser apenas pano de fundo para observações profundas acerca da vida que vivemos: uma senhora mãe caretona, uma adolescente fissurada nessa história de ser mãe um dia, uma trintona que sonha em um dia ter coragem para deixar os instintos aflorarem e uma idosa que fez na vida tudo aquilo que teve vontade.

A cada uma delas, Amanda dá o tom certo, fazendo com que acreditemos que cada uma delas existe realmente. O trabalho de atriz é tão profundo que a impressão que se tem é de ver quatro diferentes Amandas no palco.

Mordaz, o quinto texto de Fusko continua com aquele seu sarcasmo e olhar inconformado para a sociedade convencional e mediocrizante. Se o texto é bom, a atriz o faz soar melhor ainda. A direção, também assinada por Fusko, acerta no simplismo do figurino e no adereço que serve de calço para o surgimento daquelas mulheres. Outra solução brilhante é a pequenina e frenética luz na mão da trintona que deseja ser uma tigresa. Assusta e hipnotiza. A trilha sonora original de Kalau também dá a base necessária nos momentos certos.

Em sua primeira aventura solo no palco, Amanda dá conta de tudo com a certeza que só as divas têm. Mostra que veio para ficar e fazer história nesta aventura chamada teatro brasileiro. Imperdível!

Maternidades
Sextas e sábados, 19h, no Espaço dos Satyros Um (pça. Roosevelt, 214, Consolação, São Paulo, tel. 0/xx/11 3258-6345; 70 lugares; R$ 20; 10 anos, até 27/3).

Foto: André Fusko e Amanda Acosta por Vivian Abravanel

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Crítica: Play - Muita mentira e pouco sexo



Por Miguel Arcanjo Prado

Sabe aquele poema Quadrilha, do Drummond, que é uma verdadeira suruba classuda? Pois é. Ao ver a montagem Play, em cartaz no teatro Nair Bello, em São Paulo, ela me veio à mente.

É que o texto de Rodrigo Nogueira dirigido por Ivan Sugahara conta a história de um casal que vive um temperamento sexual menos que morno, interpretado pela classuda Daniela Galli e o próprio Nogueira. E quem movimenta o marasmo é a irmã da mulher, interpretada por uma espevitada Maria Maya, e o melhor amigo de faculdade do marido, vivido pelo insosso Sérgio Marone. Claro que tudo isso com direito a muitos chifres.

Não fosse pelo trabalho bem abaixo da linha aceitável de uma boa interpretação feito por Marone, daria até para dizer que o elenco vai bem. O segredo é não prestar muita atenção nele e se concentrar nos outros três. Aí, sim, a peça diverte.

Há boas interações multimídias, com exibições de vídeos com depoimentos femininos em um telão - em um deles surge a mãe de Maria Maya, a diretora Cininha de Paula. Como ela é a cara de Maya (ou seria o contrário?) a gente mais fica comparando as duas do que presta atenção no que ela diz. Mas voltemos ao elenco que vale a pena.

Galli mostra competência no domínio das cenas dramáticas e é quem mais se destaca. Maya também não vai mal. Dá o tom certo de vagabundagem que sua personagem pede. O mesmo vale para Nogueira, que faz aquele carioca safado e descarado, que lembra algum texto de Nelson Rodrigues - só que sem os dramas.

Play não é lá uma peça que se diga: que supimpa! Digamos apenas que diverte na medida certa para um fim de noite.

A peça Play está em cartaz até 24 de fevereiro todas as terças e quartas, às 21h, no teatro Nair Bello (r. Frei Caneca, 569, 3º andar, Bela Vista, São Paulo, tel. 0/xx/11 3472-2414; 14 anos). O ingresso custa R$ 40.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Crítica: In On It - Quando ir ao teatro vale a pena



Por Miguel Arcanjo Prado

Ver uma peça de teatro muitas vezes é um martírio para quem sai de casa em busca de alguma diversão. Seja por textos medonhos, atores medíocres ou direção estapafúrdia, muitas são as vezes em que o público volta para casa com a sensação de que desperdiçou seu rico dinheirinho com um ingresso. Este não é o caso da peça In On It, em cartaz no teatro Faap, em Higienópolis.

Nem o desconforto da sala num dos bairros mais chiques da capital paulista, com cadeiras amontoadas em espaço mínimo, daquelas que prendem as pernas do espectador, consegue ser capaz de tirar o brilho da montagem que nada mais é do que um exercício cênico perfeito.

De nome confuso para o brasileiro médio (o título, em inglês, significa algo como "dentro"), a peça tem direção caprichada e sem nenhum excesso assinada por Enrique Diaz. Muito pelo contrário, ele apenas colocou os atores Fernando Eiras e Emilio de Mello em um palco, munidos de duas cadeiras e luz sem arroubo algum. E dá certo.

O texto do canadense Daniel MacIvor, cheio de metalinguagens, surge forte durante os dez personagens interpretados pela dupla de talento incomensurável. Por uma hora de espetáculo o público é presenteado com um maravilhoso jogo cênico no qual o que realmente importa não são malabarismos teatrais, mas, sim, um grandiloquente trabalho de ator. No caso, o trabalho de uma dupla tarimbada de atores. Imperdível!

Onde: Teatro Faap (r. Alagoas, 903, Higienópolis, 0/xx/11 3662-7233. Quando: 6ª, 21h30; sáb., 21h; e dom., 18h. 60 min. 16 anos. Quanto: R$ 40 (sáb., R$ 50). Até 28/3.

Para conferir o blog da peça, clique aqui.