quinta-feira, 31 de março de 2011

Coluna do Miguel Arcanjo nº 176

Adeus, Zé

Por Miguel Arcanjo Prado*




José Alencar se foi. Parece difícil de acreditar. Mesmo diante de sua doença – o que poderia fazer alguns pensarem que seu fim era algo iminente –, seu recado sempre foi de vida. De dignidade.

Zé, como era chamado pelos amigos e pelo povo de Minas Gerais, terra que amou como poucos e foi espécie de porta-bandeira, com seu jeito amigo, hospitaleiro e conciliador, demonstrava uma fé inabalável a cada entrada ou saída do hospital.

Em meus primeiros passos no jornalismo, ainda estudante da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e estagiário de uma grande redação em Belo Horizonte em 2005, fui surpreendido pelo recado de meu editor, Paulo Valladares. Seria uma espécie de setorista de José Alencar.

Na realidade, isso significava que era de minha responsabilidade cobrir, diariamente, a agenda do vice-presidente e, claro, as novidades de seu estado de saúde, já então delicado.

Passei a falar diariamente com seu fiel assessor, Adriano Silva, que me passava as últimas do Zé. Até que um dia ele apareceu na emissora para uma entrevista. Encontrei-me com ele no corredor e contei que cobria sua agenda. Daquele jeito simples, ele me agradeceu e, quebrando todos os protocolos de um vice-presidente, me deu um abraço afetuoso.

É esta imagem que vou guardar do meu conterrâneo José Alencar. Homem que soube, como poucos, mostrar que é possível fazer política com dignidade. Sua vida foi exemplo de vitória, com a surpreendente trajetória de menino pobre de Muriaé, na zona da mata mineira, a empresário milionário e vice-presidente da nação.

Sem preconceitos, uniu-se ao candidato ex-operário, dando a ele a confiança do mercado da qual tanto necessitava. Zé foi generoso, humilde e sempre respeitoso com o presidente Lula, sem perder suas opiniões e convicções. Quem não se lembra de sua batalha contra os juros altos? Mas suas considerações eram feitas de forma a nunca faltar com o respeito.

Zé conquistou o amor do povo brasileiro ao mostrar, diariamente, que era apenas mais um deles. Homem simples, guerreiro, batalhador. Coisa rara de se ver. É por isso que sua partida dói tanto.

*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e tinha um grande carinho por seu conterrâneo José Alencar.

Um comentário:

Daniel disse...

Excelente coluna... Resumiu bem. Ele era o "Zé", tão íntimo de nós mineiros como tantos outros "zés" que temos em nossas vidas.