A Cirurgia ou Como É Bom Ter Saco
Por Miguel Arcanjo Prado*
Tem gente que o acha horroroso, enrugado, nada “estético”. Outros até gostam, curtem, mas nada de sair por aí declarando tal preferência publicamente. Muitos o usam como sinônimo da santa paciência, cada vez mais escassa. Cássia Eller e tantas outras até que gostariam de ter um. Mas o fato é que, para os homens, e só para eles, tê-lo sempre por ali, molenga, mesmo até quando seu companheiro está mais, digamos, esperto, é algo essencialmente natural. É tão natural que quase nunca pensamos nele.
Pois, no último domingo, tal naturalidade quase que me foi roubada, de uma hora para outra, sem nenhum aviso prévio. Estava eu lá, dormindo, feliz, na manhã dominical, aproveitando o fato de não fazer plantão – os que não são jornalistas, provavelmente não saibam, mas explico aqui: essa classe profissional das palavras noticiosas trabalha quase sempre, incluindo aí feriados santos, profanos e até o dia sagrado para os cristãos – quando, não mais que de repente, veio a maldita dor latejante. Foi de tal intensidade que acordei, meio que nocauteado entre as pernas.
Tomo remédio para dor e nada. A intensidade aumenta à medida que o tempo passa. Não teve outra solução: partir, berrando no banco de trás do táxi, para a Santa Casa. Quem sabe lá haveria alguma misericórdia.
Enquanto as lágrimas rolavam generosas no canto do olho e eu berrava indistintamente, a enfermeira colombiana tentava me acalmar, dizendo o que falam sempre: tudo ia ficar bem. Doutor chega, aperta, aperta. Manda pro ultrassom. Volto e ele vem com o resultado nas mãos. Presto atenção como todo doente, no afã de ouvir logo sua sentença.
- As notícias não são muito boas. Você sofreu uma torção testicular durante o sono. Digamos que seu testículo esquerdo girou dentro do saco escrotal enquanto você dormia, interrompendo a circulação sanguínea. Temos que operar o quanto antes, para salvar [o dito cujo] – diz o doutor, com sua calma de sempre.
E lá vou eu para o bloco cirúrgico. O anestesista é um japonês que não pára de rir nunca. Conta piadas enquanto prepara a geral. Pergunto se não vou ver nada. Não, não vai, ele explica. O cirurgião urologista, doutor Márcio, está compenetrado e apressado. Diz que cada minuto é precioso. Como num passe de mágica durmo e só acordo duas horas depois, quando tudo já estava acabado.
Nada mexe do pescoço pra baixo e só quero tentar esclarecer a dúvida essencial. Viro para o cirurgião e disparo na lata:
- E aí, doutor, ainda tenho saco?
Ele olha pro japonês e ri, antes de afirmar com a cabeça:
- Tem, sim, e com os dois testículos. Deu pra salvar.
Não contente com meu alívio imediato, o japonês brincalhão manda essa:
- Mas tem uma coisa. Tente mexer as pernas, pra ver se você consegue – e sai do bloco cirúrgico, dando gargalhadas, diante da minha cara de bobo ao tentar algo que não conseguiria até passar o efeito da bendita anestesia que ele havia aplicado em mim.
*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e convalesce de um saco operado.
2 comentários:
Porra brother...do caralho essa rsrs, mas vc meu deu um cacete susto rsrs, imagino a pica dor que você sentiu uauauauaua.
Esse troço de saco não se brinca, você fez certo. Que bom que tudo ocorreu bem.
Agora, tá de saquinho novo uauaauauaauauua. Bjos hermano.
Cuida desse saco porque vc ainda tem que ter filhos.
beijo
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