quinta-feira, 26 de março de 2009

Crítica: Quando a morte está à espreita

Por Miguel Arcanjo Prado

Por mais que Regina Braga e Rodolfo Vaz sejam excelentes atores, "Por um Fio" não encantou o público curitibano. Tanto que muitas pessoas deixaram --ato que demonstrou falta de educação da plateia-- o teatro da Reitoria durante a estreia da encenação no último dia 23, no Festival de Curitiba.

A adaptação do livro homônimo escrito pelo médico Drauzio Varella --marido de Regina-- ganhou direção de Moacir Chaves, que, fiel ao livro, transformou seus atores em meros repetidores das histórias de Varella.

Falta ação cênica à montagem que virou um grande jogral dramático. Para completar, a cenografia de J C Serroni completa acentua ainda mais o clima de frio na espinha que a peça fala, já que trata de um tema por demais denso: histórias de pacientes em estado terminal de câncer.

Ao invés de ajudar, o cenário --que transforma o palco numa praça européia de um inverno cruel, mesmo que o texto fale de casos acontecidos no bairro do Tatuapé, zona leste paulistana-- prejudica a montagem. Nervosa com a debandada do público, Regina se atropelou com o texto várias vezes.

Mesmo com os incidentes, a dupla de atores foi profissional até o fim. Quem aguardou o aplauso ficou marcado pela tristeza que a montagem faz e também com vontade de corrrer ao hospital mais próximo para fazer um check up.

PS. O público paulistano poderá conferir a peça a partir de 3 de abril, no teatro do Sesc Consolação.

Foto: Kelly Knevels/Clix

terça-feira, 24 de março de 2009

Crítica: Quatro jovens em busca do pop

Por Miguel Arcanjo Prado

O “Rehab” na voz de Amy Winehouse que a platéia escuta já do lado de fora do TUC, serve de pré-ambientação para “Óquei!”, montagem que a Cia. Transitória apresenta neste Festival de Curitiba –recurso igual, inclusive a mesma música, era utilizado no espetáculo “Sexo Verbal”, que cumpriu temporada recente em São Paulo. Mas tudo bem, Amy é mesmo muito boa e o melhor: é da nossa geração.

De repente, some o vozeirão de Amy e o público é convidado a entrar. Logo, o espectador vê o CD virar vitrola anos 80, com Madonna acima de tudo e todos com sua batidíssima e ainda ótima “Like a Virgin”. Vestidos com ares futuristas, o quarteto Kelly Eshima, Flávia Sabino, Thiago Inácio e Zé Eduardo se saracoteiam tal qual os bailarinos da diva pop. Descem, levantam, jogam as pernas e fazem coreografias de jogos sexuais.


Vestidos com biquínis e sungas, os atores são cobertos com capas de chuva transparentes e calçam galochas de plástico, o que transparece o ar futurista-pop almejado com afinco pelo jovem grupo.

Após a dança enérgica, eles começam a falar o texto de David Ives, sentados em duas cadeiras, com os sugestivos nomes de Madonna e Caetano. O quarteto se reveza na disputa por um lugar, sempre ocupado por outro que há de vir, num descortinamento da dificuldades das relações humanas por mais simples que sejam e da tensão sexual presente em todas as relações.

Outras referências gays além das já citadas surgem, como a música “Eu Comi a Madona”, de Ana Carolina. Bem-humorada, a montagem utiliza-se até de um axé coreografado em um dos momentos de maior bizarrice.

Outra cena divertida é quando o elenco utiliza-se de bichos de pelúcia para repetir o texto dado anteriormente por eles. Fica divertido e provocativo. Tem um quê de adolescente que não sabe para onde ir e volta automaticamente à infância, quando tudo era possível e dado. Uma quase síndrome de Peter Pan.

Além dos bichinhos, há até a referência do pastelão, como quando eles jogam água uns nos outros, arrancando risinhos simpáticos da plateia da mesma forma que "O Gordo e o Magro" faziam.

A montagem é despretensiosa e cumpre o que promete: mistura tudo o que é possível em um caldeirão de referências múltiplas e essencialmente jovem e pop.

Foto: Lina Sumizono/Clix

Crítica: "Oceano" - Com um ingresso lá você paga uma fileira aqui

Por Miguel Arcanjo Prado

Foi com a frase que titula este texto que um integrante da montagem "Oceano" agradeceu a plateia da Ópera de Arame, no Festival de Curitiba, no último domingo. Ele fazia referência aos preços exorbitantes da trupe do Cirque du Soleil em comparação ao de seu grupo: R$ 40.

A afetação em excesso do ator que faz o papel do menino que vive uma aventura no oceano fantástico dentro de sua banheira --onde perde seu patinho amarelinho-- não prejudica a montagem, que trouxe efeitos visuais e um belo cenários para o evento. Em meio à água do lago que circunda a Ópera de Arame, a montagem ganha mais força.


Os palhaços divertem, mas o número do homem que levanta outro com um braço só é de deixar todo mundo de boca aberta. Apesar de ainda precisar apurar mais a técnica de muitos de seus integrantes e diminuir os erros diante dos olhos do público, o espetáculo cumpriu sua proposta básica explicitada no fim: ser um quase Cirque du Soleil tupiniquim. E por que não?

Foto: Daniel Sorrentino/Clix

sábado, 21 de março de 2009

Coluna do Miguel Arcanjo 154

Festival de Curitiba - Primeiros Ares

Voltar ao Festival de Curitiba dá a sensação de que tudo mudou e que tudo continua a mesma coisa. Não eu, evidentemente. Agora, escrevendo para jornal e não para site, consigo ter um pouco mais de paz. Mas tenho a sensação de déjà vu em muitos momentos. Aqui estão os atores correndo atrás de jornalistas que vejam e critiquem suas peças. As estrelas globais --dessa vez, em número bem menor do que em 2008-- atraindo mais atenção que a turma do teatro --a minha inclusive. As peças experimentais, as peças-lixo --uma quantidade incontável-- e também as gratas revelações. Estar em Curitiba é como fazer uma garimpagem cultural. Mas também é a hora de rever amigos queridos feitos aqui no ano passado, como o Leandro Knopfholz, coordenador do evento, a Mônica Santanna e o Eduardo Simões, da assessoria de imprensa, e o Daniel Sorrentino, que cuida da Clix, a agência fotográfica que produziu as belas imagens deste post. De toda forma, morno ou não --a crítica do jornalista e agora ator da Cia dos Satyros Alberto Guzik na matéria do meu colega Lucas Neves na "Folha de S.Paulo" está movimentando as línguas teatrais--, uma coisa é certa: não há no Brasil festival teatral melhor que este.

Azeda

Marília Gabriela, que está em Curitiba com o monólogo "Aquela Mulher", dirigido pelo colega de Portelinha Antonio Fagundes, mostrou um pouco da sua habitual mistura de arrogância e amargura ao recusar convites para entrevistas. Alegou que guardava a voz para usar no palco. Enquanto isso, grupelhos iniciantes dão a vida por um jornalista na reta. Mundo ingrato!

Simpatia só

Thiago Lacerda, o mais famoso do evento, está um show de simpatia. Conversa com quem lhe aborda, dá aquele sorrisão aberto e fala sobre o que perguntarem. Ele que não é bobo nada trouxe o filho e a mulher para o festival. Segue sempre acompanhado pela turma de "Calígula", que inclui os bambambãs do teatro Pascoal da Conceição e César Augusto --que deixou o Antunes Filho para estar ao lado do meu conterrâneo Gabriel Villela. Prova que galã também é gente.

Epifania

A montagem "Inveja dos Anjos", da Armazém Cia. de Teatro, fez bonito na sua estreia --apesar de meu muito sono, devido à festa de dez anos do "Agora" na última quinta. A peça é cheia de loucura e pequenas verdades escondidas, como costuma ser a vida de todo mundo, com direito a momentos de epifania para ninguém botar defeito. Epifania, taí uma palavra que meu primo Marcelo Junio Gonçalves adora. Acho que ele adoraria a peça também.

Ela é uma graça

Na coletiva de "Zoológico de Vidro" Karen Coelho entrou muda e saiu calada. Mas não deixou de encantar com seu charme de menina recatada, daquela tipo interiorana. Tinha que fazer mocinha de novela das seis. Depois veio pertinho de mim e conversamos um bocadinho. Ela é mesmo uma gracinha de menina. Ao contrário da jornalista-atriz.

O amor de Cássia

Cássia Kiss anda amando, amando, amando. Todo mundo já sabe disso e até fiz uma matéria no "Agora" sobre o assunto. Mas ela não cansa de repetir: "É impressionante achar o homem da minha vida aos 51 anos", disse aqui em Curitiba. O elenco de "Zoológico de Vidro" está agradecido ao médico João Baptista. Tanto que ele anda sendo chamado de "São João" pelo diretor Ulysses Cruz.

Fotos: Daniel Sorrentino, Kelly Knevels/Clix

quinta-feira, 12 de março de 2009

Milk - A Voz da Igualdade


Gabriela Quintela chamou-me para ir ao cinema no último domingo. Disse que queria ver "Milk - A Voz da Igualdade". Já havia ouvido falar no filme indicado a oito Oscars e que deu o de melhor ator a Sean Penn. Lendo rapidamente a matéria da minha colega Ana Carolina Rodrigues no caderno Show! do jornal Agora tive um pouco da ideia do longa, mas já havia me esquecido dos detalhes do texto da Carol quando combinei com a Gabi. Escolhemos ir no Unibanco da rua Augusta. Correria no metrô, chegamos à sala 1. Vimos o filme em silêncio, aproveitando cada momento. Ao fim, lágrimas generosas escorriam diante da lucidez e coragem daquele homem que descobriu que podia fazer história a partir dos 40 anos de idade. Viveu tudo que tinha pra viver em uma década, como Cazuza. E deixou legado. Uma verdadeira lição de vida contra a acomodação e a mediocridade. Harvey Milk ensina que nunca é tarde demais para se reinventar e ser feliz. Porque a vida é rápida e passa num piscar de olhos. Tá esperando o que pra correr para o cinema mais perto de você?


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quarta-feira, 11 de março de 2009

Menina Mallu


Os pseudo-cults da mídia resolveram eleger a menina Mallu Magalhães como fenômeno musical no ano passado. Tanto bateram nesta tecla, que conseguiram. A menina saiu em tudo quanto é canto, claro, sobretudo a um forte esquema --leia-se grana e poder-- atrás dela. Tanto que chegou ao olimpo da música televisiva: o "Domingão do Faustão", no último domingo. Só que a passagem dela por lá mostrou ao Brasil todo o que eu descobri ao entrevsitá-la no último VMB da MTV. Bom, veja você mesmo aqui. A única pergunta que faço é a seguinte: como o Marcelo Camelo aguenta isso aos 31 anos?

terça-feira, 10 de março de 2009

A gracinha faz 80 anos



Por Miguel Arcanjo Prado*

Ícone feminino, Hebe Camargo completa 80 anos hoje, data em que se comemora o Dia Internacional da Mulher. As oito décadas poderiam ser um conto de fadas: de gata borralheira, a apresentadora se tornou a dama da TV brasileira.

“Nunca menti idade. Agora, não é que eu me preocupe. É que eu fico com peninha, porque o tempo é mais curto. Sobra pouco para me divertir e gozar a vida”, afirma a apresentadora, que recebeu o Agora, na última segunda, em seu camarim, no SBT.

Hebe falou sobre sua trajetória na TV _ela foi reprovada no primeiro teste_ e do momento atual. “Enquanto tiver essa saúde fantástica, quero me divertir. Vou fazer TV enquanto estiver alegre, feliz, brincando no palco. Quando ficar uma coisinha meio murcha, eu digo: ‘Bye, bye, Brasil’.”

Mas o dia é de comemoração, e Hebe só quer festejar. Além de ganhar quatro programas especiais no SBT, a apresentadora terá uma festa “black tie” hoje à noite, na mansão da empresária e amiga Lucília Diniz, em São Paulo. Ela, que não quis saber dos detalhes da comemoração, diz que tudo será uma grande surpresa.

No banquete, para 500 convidados, não faltarão presenças ilustres. O prefeito Gilberto Kassab, o governador José Serra e até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estão entre os convidados. À la Hebe, todos ganharão uma joia de lembrança.

Infância pobre

As muitas joias de hoje contrastam com a vida da menina do interior. Vinda de Taubaté para a capital paulista, Hebe morou em um porão. Filha da dona-de-casa Ester e de um violinista de nome complicado, Sigesfredo Camargo, que logo virou apenas o seu Fego, a garota tinha como passatempo adivinhar quem passava na rua. “Ficava brincando de adivinhar se eram pés de homem ou de mulher”, recorda.

Como a grana era curta _com o fim do cinema mudo, o pai havia perdido o emprego no cinema de Taubaté_, Hebe trabalhou como empregada na casa de uma tia rica.

Ao rever o começo difícil, a dama da TV não faz drama. “Passei as dificuldades pelas quais todo mundo passa, de quem não é nada e precisa conseguir uma chance. Precisava limpar a cozinha da minha tia para conseguir dinheiro para pagar o bonde e ir cantar em programas de calouro”, diz. De microfone em microfone, emancipou-se. “Ia cantar, independentemente do quanto iria ganhar. Ganhava uma ‘porcariinha’, mas, de qualquer maneira, era uma ‘porcariinha’ que fazia toda a diferença”, recorda.

Hebe chegou a participar de um quarteto com a irmã, Stella, e duas primas, o Dó-Ré-Mi-Fá, que logo acabou. Depois, foi a vez de fazer a dupla Rosalinda e Florisbela, com Stella. Mas a luz própria projetou o voo solo. Fã de Carmen Miranda, logo virou a Moreninha do Samba. Os cabelos loiros só seriam incorporados ao visual em 1957, quando engrenou na televisão.

Reprovada no teste

Misturada desde cedo à turma do rádio, Hebe fez parte da comitiva que acompanhou o todo-poderoso das comunicações Assis Chateaubriand (1891-1968) ao porto de Santos para buscar a parafernália eletrônica que inauguraria a televisão no Brasil, em 1950. “Era completamente ignorante, não sabia de nada. Via os caminhões e achava que os caixotes iam começar a filmar todo mundo [risos]. Fiquei sem ar ao ver aquelas coisas saindo do navio. Teve um grande almoço no Guarujá, com o Chateaubriand, o Dermival Costa Lima [diretor da Tupi], a Sarita Campos [apresentadora da Tupi], o Walter Forster [ator que mais tarde daria o primeiro beijo da TV, na atriz Vida Alves]. Guardo até hoje a foto em que estou de vestidinho estampado.”

Pode até soar estranho, mas Hebe não passou no primeiro teste. “Fui reprovada. Fizeram o teste no corredor mesmo. Montaram as câmeras e me colocaram na frente. E disseram: ‘Está reprovada. Essa imagem está horrível’. É que a minha sobrancelha era igual à da Malu Mader, bem grossa, e eles diziam que a imagem estava escura. Mas eles não tinham técnicas de iluminação. Não é engraçada essa história? Fui reprovada e estou aqui até hoje. Já os que me aplicaram o teste morreram todos.”

Hebe teve padrinhos, mas não gosta de enumerá-los. “É porque todo mundo já morreu. Tem o Dermival Costa Lima, que era diretor da rádio Tupi, teve o Gilberto Martins [diretor da Tupi], que também já morreu. Está vendo? Se continuarmos falando nisso, vamos parar no cemitério [risos].”

Feminista e dona-de-casa

Hebe teve sua grande chance em 1955, quando recebeu o convite do galã que virou diretor. “Fui convidada pelo Walter Forster, criador do programa ‘O Mundo É das Mulheres’. Era feito por cinco mulheres. Toda semana, a gente convidava um homem. No momento do encerramento da entrevista, pressionávamos o entrevistado a dizer que o mundo era das mulheres. Mas não era coisa nenhuma! As mulheres naquela época não tinham evidência. Elas não saíam de casa para trabalhar, eram mais donas-de-casa, mulheres e mães. Foi daí que começou essa coisa de as mulheres arregaçarem as mangas”, analisa.

Mesmo antecipando o discurso feminista, Hebe sucumbiu à regra de comportamento de seu tempo. Ao se casar, em julho de 1964, com o empresário Décio Capuano, resolveu que tinha de abandonar a TV. No ano seguinte, nasceu seu primeiro e único filho, Marcello Camargo. “Achei que, como iria me casar, tinha de ser dona-de-casa”, afirma.

Mas a televisão não aceitou perdê-la para o marido. “Nunca paravam de me enviar convite. Um dia, fui com meu filho, o Marcello, que só tinha 30 dias, participar do programa ‘Corte Rayol Show’, que era feito pelo Agnaldo Rayol e pelo Renato Corte Real, na Record. Ao saber que eu estava na emissora, Paulinho Machado de Carvalho [então diretor da emissora] foi ao camarim e falou: ‘A gente queria demais que você voltasse para a televisão.’ O Décio acabou concordando, e eu voltei para nunca mais sair.”

Tempos modernos

O casamento com Capuano acabou em 1971. Dois anos depois, casou-se com o empresário Lélio Ravagnani, que, ao contrário do primeiro, não se opunha à carreira da mulher. Ficaram juntos até a morte dele, em 2000. Após a Record, foi para a Band, no final dos anos 70, onde ficou por quatro anos. Em 1985, Silvio Santos a chamou para ser a estrela do SBT. Hebe está na emissora há 23 anos _e renovou contrato recentemente por mais quatro anos.

“A TV é minha vida. A partir dela, comecei a aparecer, e o Brasil começou a me prestigiar. Se o público não quiser, nada acontece. Sou grata a ele.” A loira diz ainda se surpreender com as manifestações. “Vejo rapazinhos de 15 e 16 anos me pedindo um selinho. Mas não me sinto um mito.”

Flagra no banheiro

Mas o fato é que Hebe tem a admiração de artistas do primeiro time. O colega de emissora Gugu Liberato tenta defini-la: “É uma pessoa especial, com uma carreira impecável. É o tipo de pessoa que trabalha por amor, daí vem seu brilho, sua luz!”.

Gugu conta um episódio que mostra a irreverência de Hebe. “Estava hospedado em um hotel de Salvador. Ela também estava, mas não sabia. Ela fez então uma surpresa, entrando em meu apartamento. Só que eu estava tomando banho! E ela, com seu bom humor de sempre, entrou no banheiro fazendo a maior festa, sem se importar com a situação na qual me encontrou. Foi muito divertido”, diz.

A apresentadora da Globo Ana Maria Braga ficou amiga de Hebe quando as duas frequentavam o mesmo salão. “Durante anos, nos víamos semanalmente, no antigo Colonial. Dávamos sempre boas risadas. Hebe é uma companhia inigualável”, afirma. Para Ana Maria, a “exuberância e a alegria de viver” são marcas registradas de Hebe.

A turma da música também vê Hebe com carinho. Irreverente, Alexandre Pires deseja a ela “muito sexo, amor e paixão” nestes 80 anos. Beth Carvalho lembra a primeira ida ao programa. “Foi no começo dos anos 70. Fiquei impressionada com a forma direta de comunicação com o público.” Margareth Menezes também se lembra da primeira vez: “Fui cantar ‘Elegibô’. Estava com medo. Era uma nordestina de Salvador chegando a São Paulo. Hebe me recebeu com toda a simpatia”. Beth tem uma teoria sobre a longevidade de Hebe em frente às câmeras. “É porque ela não envelheceu.”

Roqueira tatuada

Quem convive com Hebe é certeiro ao responder que atrasos a irritam. É o que dizem Ariel Jacobowitz, diretor do programa “Hebe” há seis meses, e Regina de Souza, produtora-executiva da atração há mais de 20 anos. Regina lembra um episódio engraçado. “Ela se vestiu de roqueira, toda de couro, com uma peruca enorme encaracolada e uma tatuagem de cobra na barriga. Ela entrou no palco com uma guitarra e a jogou para a plateia. Na hora, todo mundo se assustou, mas depois rimos muito.” Ariel define Hebe como uma “profissional de primeira”. “É pontual e gosta de tudo muito organizado. Quero chegar à idade dela assim. É de dar inveja.”

Para quem ainda se admira com as “travessuras” de Hebe, que hoje é conhecida por seus selinhos, a apresentadora surpreende também em seus 80 anos. Ela poderia dar uma volta ao mundo, mas escolheu um parque de diversões para brindar com os amigos seus 80 anos.

Depois da festa de arromba desta noite, Hebe planeja uma comemoração menos formal. No dia 17, embarca com um grupo de amigos para a Disneylândia (EUA). “Muita gente caçoou de eu fazer minha festa na Disney. Mas não é uma festa de criancinha. É uma festa de adulto, para a gente se sentir criança. Porque na Disney, em qualquer canto, você se sente criança. Quer coisa melhor do que você ter 80 anos e poder se sentir criança?”. Realmente, em matéria de vitalidade, Hebe é imbatível.

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O grande exemplo para Galisteu

Apontada como provável sucessora de Hebe, Adriane Galisteu se inspira na apresentadora. “A Hebe é sem dúvida uma inspiração para mim como profissional. Ela é essa fonte eterna de alegria, vida, prazer e emoção”, afirma. Adriane, que diz colecionar histórias com Hebe, conta uma delas. “Foi no aniversário dela de dois anos atrás, que passamos só eu, ela e nossas famílias. Foi um momento de grande intimidade.”

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Com Lolita, apresentadora construiu amizade de 65 anos

Aos 15 anos, Hebe conheceu uma jovem da sua idade, que tinha sonhos parecidos com os seus: Lolita Rodrigues, que faz 80 anos depois de amanhã. “A Lolita sempre se gabou de ser dois dias mais nova que eu [risos]”, lembra Hebe.

Foi Lolita quem cantou no lugar de Hebe o “Hino da Televisão”, na chegada da TV ao país. “São 65 anos de amizade. Quando nos conhecemos, cantava na Cultura, e ela, na Tupi. Ficamos tão grudadas que, quando o seu Fego [pai de Hebe] estava para morrer, ele me disse que eu era a sétima filha dele”, conta Lolita.

Em 1950, a dupla se transformou em trio, com a companhia da atriz Nair Bello, que morreu em 2007. “Não podíamos ir juntas a velório, porque sempre acontecia alguma coisa e a gente caía na risada”, recorda Lolita, às gargalhadas. Ela lembra que salvou a vida de Hebe. “Fomos para Recife. De repente, olho para o mar e cadê a Hebe? Fui correndo tirá-la de lá. Foi um susto!”

Para Lolita, das três, Hebe sempre foi a mais espevitada. “É um caso raro, merece ser estudada por cientistas. Me dá vontade de dar um murro nela. Sabe como a Nair chamava a Hebe de brincadeira? De velhinha filha da puta.”

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"Hebe é uma pessoa especial, com uma carreira impecável e um caráter raro. É o tipo de pessoa que trabalha por amor, daí vem seu brilho, sua luz"
Gugu Liberato, apresentador


"Hebe conquistou o título de maior apresentadora da TV brasileira por ser uma mulher sempre à frente do seu tempo. Ela não poupa elogios e críticas a ninguém"
Ana Maria Braga, apresentadora



"Passei as dificuldades pelas quais todo mundo passa. Precisava limpar a cozinha da minha tia para ganhar dinheiro para o bonde"
Hebe Camargo, apresentadora


"Muita gente caçoou da minha festa na Disney. Lá, você se sente criança. Quer coisa melhor do que você ter 80 anos e poder ainda se sentir criança?"
Hebe Camargo, apresentadora




Reportagem de capa da Revista da Hora do jornal Agora São Paulo de domingo, 8 de março de 2009. Fotos de Lourival Ribeiro/SBT/Divulgação