sábado, 6 de fevereiro de 2010
Crítica: Maternidades - Uma atriz que vale por quatro
Por Miguel Arcanjo Prado
Amanda Acosta já mostrou que era atriz do primeiro time de sua geração quando protagonizou com esmero o musical "My Fair Lady", em 2007. Como a jovem Elisa Doolitle, deixou a plateia completamente apaixonada por ela. Mas não se prendeu ao passado e conseguiu ir muito mais além.
Em Maternidades, texto escrito sob medida por seu marido, o ator, médico e dramaturgo André Fusko, ela surge desprovida das pirotecnias cenográficas e coreográficas dos musicais e sem poder exercitar seu belo canto. Mas não faz diferença alguma. Muito pelo contrário. Ela demonstra talento ainda maior nesta montagem focada em seu trabalho de atriz.
No diminuto palco do Espaço dos Satyros Um, na praça Roosevelt, reduto do teatro alternativo paulistano, Amanda se agiganta na pele de quatro diferentes mulheres que falam da aventura da maternidade, apesar do tema ser apenas pano de fundo para observações profundas acerca da vida que vivemos: uma senhora mãe caretona, uma adolescente fissurada nessa história de ser mãe um dia, uma trintona que sonha em um dia ter coragem para deixar os instintos aflorarem e uma idosa que fez na vida tudo aquilo que teve vontade.
A cada uma delas, Amanda dá o tom certo, fazendo com que acreditemos que cada uma delas existe realmente. O trabalho de atriz é tão profundo que a impressão que se tem é de ver quatro diferentes Amandas no palco.
Mordaz, o quinto texto de Fusko continua com aquele seu sarcasmo e olhar inconformado para a sociedade convencional e mediocrizante. Se o texto é bom, a atriz o faz soar melhor ainda. A direção, também assinada por Fusko, acerta no simplismo do figurino e no adereço que serve de calço para o surgimento daquelas mulheres. Outra solução brilhante é a pequenina e frenética luz na mão da trintona que deseja ser uma tigresa. Assusta e hipnotiza. A trilha sonora original de Kalau também dá a base necessária nos momentos certos.
Em sua primeira aventura solo no palco, Amanda dá conta de tudo com a certeza que só as divas têm. Mostra que veio para ficar e fazer história nesta aventura chamada teatro brasileiro. Imperdível!
Maternidades
Sextas e sábados, 19h, no Espaço dos Satyros Um (pça. Roosevelt, 214, Consolação, São Paulo, tel. 0/xx/11 3258-6345; 70 lugares; R$ 20; 10 anos, até 27/3).
Foto: André Fusko e Amanda Acosta por Vivian Abravanel
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3 comentários:
Senti como se estivesse apreciando a peça.
Obrigada pelos sinceros e ricos detalhes, Miguel!!!
E sobre a peça, só elogios e indicações.
A Amandinha é muito talentosa e o Fusco também. Muito sucesso com a peça aos dois, e espero poder ter o privilégio de vê-los novamente.
Aline, que bom que você gostou da crítica. Fico feliz.
Rodrigo, Amanda é uma das melhores atrizes de sua geração. E Fusko está se saindo um dramaturgo e tanto. Já mostrou que tem estilo próprio e que veio para ficar.
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