quinta-feira, 28 de maio de 2009

Coluna do Miguel Arcanjo nº 157

UM SHOW PARA A HISTÓRIA

Por Miguel Arcanjo Prado


Ao chegar ao Teatro Municipal, por volta das 20h da última terça-feira (26), com a missão de cobrir o show “Elas Cantam Roberto – Divas” para o jornal “Agora São Paulo”, deparei-me com o grande alvoroço. Muita gente, carros e flanelinhas cobrando R$ 50 para guardar o carro nas ruas do centro de São Paulo. Na porta, os rapazes do “Pânico” e do “CQC” faziam a alegria dos populares, apesar da fraca lista de celebridades na plateia. Não no palco.

O ministro dos Esportes, Orlando Silva, foi um dos primeiros a aparecer no imponente saguão, acompanhado da mulher, a atriz Ana Petta. Perguntei a ele qual música gostava do repertório do Roberto. Ele disse que era “Amigo”, porque a família costumava cantar no Natal quando ele era pequenino. Fiz a mesma pergunta ao prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que me respondeu: “Nenhuma”. Pelo jeito, ele não deve gostar muito do Rei e estava ali apenas como político. Tudo bem.

A imprensa estava um pouco perdida antes de o show começar. Como não havia celebridades a se fotografar, os ricos acabaram ganhando os flashes. Não os meus, evidentemente, que tratei logo de entrar, ao ouvir o terceiro sinal. Mário Canivello, assessor do evento, foi bonzinho dessa vez e me colocou na terceira fila, de cara para o gol, quer dizer, para o palco. Seria um lugar realmente mais privilegiado, se não fossem os dois obesos ao meu lado.

Marcado para 21h, o show não atrasou tanto, sobretudo quando os parâmetros de comparação são os joãogilberteanos. Ás 21h35, as cortinas do Municipal se abriram, e Hebe Camargo surgiu esplendorosa em um vestido branco e com joias que só ela consegue sustentar. Cantou “Você Não Sabe” (Roberto/Erasmo Carlos) em uma interpretação contida e afinada. Saiu ovacionada e aos gritos de “Gracinha!!!”.

Depois foi a vez de mãe e filha, Zizi e Luiza Possi, entrarem para cantar “Canzone per Te” (Sergio Endrigo/Segio Bartotti). Apesar de o microfone de Luiza não ter funcionado no começo, elas cumpriram o combinado. Zizi, ainda bem nervosa, errou a introdução de “Proposta” (Roberto/Erasmo Carlos), que cantou sozinha.

Mas logo elas foram esquecidas pelo público, quando este viu entrar Alcione, a nossa Aretha Franklin. Ela fez o que bem quis com “Sua Estupidez” (Roberto/Erasmo Carlos). A segurança era tanta que parecia que ela estava cantando em uma pracinha do Andaraí. Coisa de quem pode.

Fafá foi a seguinte, tímida no começo, mas esfuziante em seu vestido preto justo. Com maquiagem e penteado sereno, fez “Desabafo” (Roberto/Erasmo Carlos). Com o desenrolar da música, ganhou confiança e saiu com seu sorriso marcante. Celine Imbert seguiu com “A Distância” (Roberto/Erasmo Carlos), numa interpretação que prometia muito mais do que mostrou, já que era a única cantora lírica no evento. Não marcou.

Logo após, Daniela Mercury surgiu para ser o grande mico do show. Acompanhada por bailarinos, negros e lindos, surgiu de vestidinho curtíssimo para cantar “Se Você Pensa” (Roberto/Erasmo Carlos). O problema foi que seu microfone estava desligado e ela não percebeu isso até cantar os três primeiros versos. Após o vexame, voltou para trás do palco e fez tudo de novo. Um painel gigante de Roberto jovem testemunhou tudo.

A baiana melhorou um pouco quando entrou Wanderléa, que parecia sua irmã gêmea, com um figurino tão duvidoso quanto. As duas foram as únicas de pernas de fora. Se bem que Wanderléa estava, no mínimo, sendo autêntica com seu passado. Fizeram dueto em “Esqueça” (Mark Anthony/versão de Roberto Corte Real) e o público esqueceu os bailarinos equivocados de Daniela.

Depois, Wanderléa fez sozinha “Você Vai Ser o Meu Escândalo” (Roberto/Erasmo Carlos), enquanto imagens dela e de Roberto na juventude eram projetadas. A Ternurinha fez uma apresentação memorável, digna de Diva. Cantou com a verdade que só a vida dá e ganhou um buquê de rosas vermelhas que levou para a coxia.

Rosemary parecia uma boneca Barbie com seu longo e luvas cinza. Primeira a cantar com pedestal, ela fez direitinho “Nossa Canção” (Luiz Ayrão). A plateia ajudou e cantou junto. Fernanda Abreu trouxe os backings vocais para a frente do palco para cantar a politizada “Todos Estão Surdos” (Roberto/Erasmo Carlos). De vestidinho estampado, pediu a plateia para marcar o ritmo com palmas e berrou: “Eu quero ouvir o Municipal”. Pelo menos conseguiu imprimir seu estilo. Mesmo que duvidoso.

Paula Toller fez uma chatíssima versão, já conhecida, de “As Curvas da Estrada de Santos” (Roberto/Erasmo Carlos). Tipo daquelas que não ficam na lembrança. Melhor pular para a próxima.

Quem dormiu durante a apresentação da pseudo-roqueira logo acordou quando Marília Pêra entrou para fazer “120, 150, 200 km por Hora” (Roberto/Erasmo Carlos). Ela exagerou na interpretação de tintas fortíssimas que a fizeram parecer uma destrambelhada no palco. Mesmo assim, valeu a pena. De tão assustado, o público ovacionou no fim. Afinal, quem não arrisca não petisca.

Marina Lima surgiu de guitarra vermelha para cantar “Como Dois e Dois” (Caetano Veloso). Para quem a esperava vê-la sem voz, como tem andando nos últimos tempos, ela até que cantou muito bem. Depois, Sandy surgiu afinada, apesar da voz treme-treme, para fazer “As Canções Que Você Fez pra Mim” (Roberto/Erasmo Carlos), sob uma luz etérea. Bonitinha.

Mart’nália transformou tudo em sambão, ao cantar “Só Você Não Sabe” (Roberto/Erasmo Carlos). Também trouxe para frente os backings, que sambaram junto. A filha de Martinho mostrou segurança e irreverência que só quem é da Zona Norte é capaz de ter, a não ser que seja Cazuza.

Adriana Calcanhotto teve que enfrentar uma leve microfonia ao entrar, mas aguardou sereníssima, até que pudesse se sentar em seu banquinho, empunhar seu vilão e ser a única a esnobar a orquestra. Cantou “Do Fundo do Meu Coração” (Roberto/Erasmo Carlos).

Claudia Leitte surgiu logo após, um pouco insegura. Dava para ver que não ela não era dona do espaço e que o coração batia forte. Foi esperta e cantou “Falando Sério” (Maurício Duboc e Carlos Colla) mais contida, ainda não acostumada a um palco que a deixe tão presa. E tão solene.

Nana Caymmi chegou ao centro do palco auxiliada por um produtor. Mesmo com a saúde e voz debilitada, mostrou de quem é filha ao cantar “Não Se Esqueça de Mim” (Roberto/Erasmo Carlos). O sangue falou mais alto e ela parecia muito feliz. Mesmo. Ana Carolina veio de “Força Estranha” (Caetano Veloso). Encarou o público olho nos olhos o tempo todo, como faz em seus shows que alegram a mulherada, e abriu a tal voz tamanha.

Quando Ivete Sangalo surgiu, para cantar “Os Seus Botões” (Roberto/Erasmo Carlos) e “Olha” (Roberto/Erasmo Carlos), a plateia foi ao delírio, o que deixou bem claro quem das 20 era a mais popular, com todo o significado comercial que isso implica. Entre as duas músicas que fez, quebrou o protocolo estabelecido pela diretora do show, Monique Gardenberg, e falou com a plateia. “Estou bonita?”, perguntou, com sua modéstia habitual. Exibiu a barriga de cinco meses. Pediu aplauso à banda. Declarou amor ao Rei. E, tagarela que só, coube a ela chamá-lo.

De azul, Roberto surgiu e todos se levantaram, em reverência. Sozinho, cantou a tão previsível e sempre emocionante “Emoções” (Roberto/Erasmo Carlos). Afinal, são 50 anos de carreira, né? Todo mundo cantou em uníssono. Depois, o Rei convocou as 20 divas para, com ele, cantarem “Como É Grande O Meu Amor por Você” (Roberto/Erasmo Carlos). Sem dúvida, o momento de maior emoção do show. O gol de final de Copa do Mundo, para usar as metáforas futebolísticas tão apreciadas por nosso presidente.
Foi lindo ver as estrelas disputando a atenção do Rei, cantando cada qual um versinho para ele. Hebe ficou com ciúmes da mão-boba de Roberto nas costas de Luiza Possi. Nana Caymmi quase voava. Claudia Leitte deu beijinhos e carinhos sem ter fim no Rei. Wanderléa sorria com a verdade de seu passado.

A cortina fechou e tudo ainda parecia sonho. Mas logo abriu para o bis generoso: “É Preciso Saber Viver” (Roberto/Erasmo Carlos). Mas logo tudo acabou. E eu fiquei ali sentado, com gostinho de quero mais.

Ps. Quem não teve o privilégio de ver as duas horas de show ao vivo poderá vê-lo em versão editada com 70 minutos, neste domingo, após o “Fantástico”, na TV Globo.



*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e é fã de Roberto Carlos desde o ano passado, quando assistiu a um show do Rei pela primeira vez. Se quiser saber como foi esse outro momento, clique aqui.

Fotos: Marcos Hermes/Divulgação

9 comentários:

Claudia Mendonça disse...

Adorei, Miguel!
Parece que tambem fui no show, so de ler seu texto... :)
Obrigada por continuar mandando suas colunas, mesmo depois de tanto tempo...
Saudades... guardo com carinho a bonequinha que voce me deu, quando eu vim pra ca...
Beijos,
Claudinha.

Luis disse...

ai maldito, gongou todas!
rsrsrs
bjos

Anônimo disse...

MALDITO OU SORTUDO HEIN IRMAO!
ESTA COM A CORDA TODA, TERCEIRA FILA... DAQUI A POUCO VAI ESTAR NO PALCO!
ABRAÇOS!
Gabriel Prado.

Angelov disse...

gennnte adorei o texto!! arrasou, arrasou. Um dos melhores textos sobre show que já li.

E o que são essas gêmeas Vandeca e Daniela? Parecem Shakira e Beyonce no clipe de Beautiful Liar, só faltam fazer a dança do ventre

beijosss

Lígia disse...

oi Miguel, obrigada pelas informações em primeira mão.
bjs
Lígia

Michel Ferrabbiamo disse...

Fantástico.. adorei o texto, fui ao show junto com vc...

Alberto Pereira Jr. disse...

ai como eu queria ter ido a esse espetáculo!

Átila Uno Ikki disse...

Que texto "miguelileano" rssrsrs!!! Fantástico.

Vi o show pela Globo, e a emissora estragou o espetáculo com a navalhada na edição. Ainda bem que sua descrição textual foi superior!

Te adoro meu grande hermano...saudades mil!!!

Miguel Arcanjo Prado disse...

Claudinha,
você é especial, sempre. Tenho saudade de tudo. Daquela nossa felicidade... Enfim, a vida passa. Beijos e aproveite a Holanda por mim!

Luis, gongar é preciso.

Gabi, sortudo nada. Trabalhador!!!

Gábi, obrigado pelo elogio rasgado. Te amo, você sabe disso.

Ligia, de nada. Beijão.

Michel, que bom que o texto provocou isso. Era a intenção.

Alberto, você e a torcida do Flamengo!

Átila, texto migueliano... isso é bom ou ruim? heheheh. Te amo também.